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Luisito, a dentada e o coração partido

Volto à lida, com a notícia da hora…

“O uruguaio Luis Suárez foi suspenso por nove jogos da seleção pela Fifa, após morder um rival no jogo contra a Itália. Ele é reincidente neste tipo de agressão e, com o gancho estipulado pela entidade, não poderá mais atuar na Copa do Mundo – a decisão vale a partir deste sábado, quando o Uruguai encara a Colômbia pelas oitavas de final. Além disso, ele pagará multa e terá de cumprir quatro meses afastado de qualquer atividade no futebol, incluindo partidas com o seu clube, o Liverpool, e a presença em estádios”.

Antes, porém, explico que estive alguns dias na pacata Serrambi, arredores de Porto de Galinha, em Pernambuco, para um tempinho de descuido e descanso e constatar como este País é belíssimo, especialmente em seus mais fugídios recantos.

II.

Meus cinco ou seis leitores que sou um homem de muitas pátrias, em boa hora nascido e criado no Reino Unido do Bairro do Cambuci, em São Paulo. Por isso tenho certeza, vão relevar minhas amorosas declarações acima. Assim, como espero, entenderão as considerações que faço a seguir sobre o encontro épico que ocorreu, em Natal, entre as seleções da Itália e do Uruguai – dois dos tais rincões que amo de paixão.

A Itália, por ser a terra de meus antepassados e pela extraordinária emoção que me invade toda vez que há qualquer referência ao país. Lembro a vó Ignês, o vô Carlito, as noites de Natal, as canções napolitanas. Lembro o pai, os amigos do pai e a farra que a turma fazia no Bar Astória, na rua Lavapés.

Jogavam um jogo lá deles, chamado Patrão e Sotto, e comentavam ardorosamente o resultado do Palestra em campo.

O Uruguai me é um amor, diria, recente. Me encantam a educação de seu povo, as noites musicais do Bar Fun-Fun na linda e acolhedora Montevidéu, a placidez de Punta Del Leste, o recato de Colônia de Sacramento, o por do sol no rio/mar da Prata e mais e mais e muito mais.

Vou lhes confessar um desejo secreto.

Não foram raras as vezes em que passou pela minha cabeça fixar residência em algum desses recantos. Para, à distância e serenamente, apreciar as transformações cada vez mais destrambelhadas que acontecem no mundo.

III.

Dito isto, fico à vontade para dizer que ‘amarelei’ quando Itália e Uruguai se enfrentaram na primeira final deste Mundial.

Explico.

Queria que os dois países seguissem em frente.

(Impossível diante da avassaladora Costa Rica, quem diria!)

Ao mesmo tempo, não gostaria que o Brasil pegasse qualquer um deles pela frente.

Preciso que vocês me entendam, amáveis e persistentes leitores.

Na idade em que estou aparecem os tiques, as manias.

Não sei se aguentaria ver my broken heart novamente em tão poucos dias.

Também porque me assombrou na semana inicial da Copa imaginar que a Azurra, que tanto amo, pudesse se igualar ao Brasil na conquista da quinta estrela, do pentacampeonato.

Ufa!

Deste já me livrei.

Sobrou o ‘fantasma’ do Maracanazo que sempre rondou as histórias do futebol brasileiro.

Acreditem! Não era nascido quando aconteceu o fatídico dois a um na final da Copa de 50. Mas, sempre me aperreou a tristeza do pai e dos amigos do pai ao narrar o triste enredo vivido por todos naquele 16 de julho.

Nunca imaginei a Copa no Brasil – por isso, deste medo, não sofria.

Até que veio o anúncio da Copa, a Copa, e os jogos da Copa…

… e o confronto Itália e Uruguai que acabou de forma épica (para uns), de forma pífia para mim.

IV.

Que me desculpem os amigos orientais.

A atitude de Luisito Soares não tem desculpas.

Foi um gesto torpe, vil, que beira o insano.

Não há como ignora-la seja qual for o argumento.

Não cabe sequer o contexto de que “o futebol é um esporte de contato”.

O argumento é mixo.

Como foi deplorável a tentativa de defesa do capitão Lugano de que há um complô mundial contra o Uruguai, o simpático Uruguai que cativa a todos que o conhecem.

Disse mais o vigoroso zagueiro:

A mídia esportiva brasileira – que a meu ver foi leniente nos comentários pós-jogo com o destempero do jogador – é que está no comando de tudo, instigou a repercussão internacional “de um lance de jogo tão irrelevante”.

Leio que até o presidente Mujica embarcou nessa.

Lamento.

Lamento profundamente…

… mas, com o coração partido, afirmo a punição foi justa.

V.

A partir de agora sou Colômbia desde criancinha.

Eu disse. Sou um homem de muitas pátrias.

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