Acho oportuno repetir aqui e agora – ainda que devidamente enxugado e editado – o texto quer escrevi em novembro do ano passado, logo após passar alguns dias em Cartagena das Índias, no litoral caribenho da Colômbia.
Pouco mais, pouco menos, mostra como os colombianos enxergam os brasileiros e a eles próprios neste momento – afinal, não faz tanto tempo assim.
Vale dizer que a seleção local acabara de se classificar para o Mundial e o entusiasmo era grande.
Como ainda agora é, registre-se.
II.
Eu estava no saguão do hotel, de bobeira, quando fui abordado por uma guia de turismo colombiana, ávida por encontrar um bando de chilenos que fariam um city tour pela cidade.
Como eles demoravam a chegar e eu me identifiquei como brasileiro “com muito orgulho, com muito amooooor”, entabulamos uma conversinha bem arisca.
Acompanhem.
III
– Quem está de férias, não usa relógio, disse.
No lugar de acalmá-la, minhas palavras, desconfio, despertaram o instinto de competição da moça, e um exacerbado patriotismo.
– Vai ver estão tomando o café, retrucou com cara de quem prepara o bote. Que veio em seguida.
– Vocês, brasileiros, também têm café. Mas, o da Colômbia é o número um do mundo.
Falou e riu gostosamente.
IV.
Mais adiante, como os chilenos não deram o ar da graça, ela retomou a provocação.
– Os brasileiros precisam visitar o Museu das Esmeraldas no Centro Histórico. É interessante…
– … Vocês, brasileiros, também têm esmeraldas em seu País. Mas, as da Colômbia são a número um do planeta.
V.
Resolvi deixar pra lá. Já conhecia o tal museu (na verdade, uma loja que vende esmeraldas e que, nos aposentos dos fundos, simula uma mina com toscos recursos cenográficos).
Pensei em lhe dizer que éramos povos irmãos. Não estávamos disputando isso ou aquilo.
Exagerei na figura de linguagem, creio:
“Ei, moça, devagar. Não estamos em uma arquibancada de futebol.
VI.
Aliás, bastou ouvir a palavra ‘futebol’ para assumir um tom ainda mais debochado:
– Vocês, brasileiros, adoram o esporte, não? Foram campeões do mundo. Pelé, Ronaldo, Romário… Só que hoje nós, da Colômbia, temos o Falcão (do Mônaco), ele, sim, é o número um do mundo.
VII.
Pois, então, mal sabia ela que o Falcao deles (assim que pronunciam o nome do craque) está fora de combate. Que o bonzão da Copa seria um tal de James Rodrigues, o camisa 10 do Mônaco e da seleção colombiana. Que no Brasil tem Neymar, menino bom de bola e de ginga. E que amanhã, 4 de julho, iríamos passar a limpo quem é quem no futebol mundial.
Pra cima deles, rapaziada!