Conta-se que lá pelas tantas das oitavas de final da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, a equipe anfitriã empatou com o selecionado do Chile no tempo normal de jogo e na prorrogação. Um a um foi o placar. Aplicou-se, então, o rigor do regulamento e craques das duas seleções deveriam alternar-se na cobrança de cinco pênaltis ou mais até que o placar indicasse um vencedor. Foi, neste momento, que o fenômeno aconteceu: o goleiro brasileiro passou por incrível metamorfose. Seus braços se transformaram em asas e, dotado deste esplêndido recurso, defendeu todos os chutes endereçados ao gol. Vitória brasileira…
No jogo seguinte, pelas quartas de finais, o Brasil enfrentou a Colômbia, sem maiores problemas. Gols do capitão da equipe, que chorou copiosamente após ver a bola que chutou ir para o fundo da rede, e de seu parceiro de zaga, de cabeleira encaracolada tal e qual os anjos barrocos das igrejas das Minas Gerais. Este cobrou uma falta da intermediária adversária, com chute forte, insinuante que fugiu do alcance e entrou no ângulo direito do gol colombiano. Mas, o grande lance do jogo se deu nos minutos finais. A Colômbia pressionava o Brasil em busca do primeiro gol e de algum alento que mantivesse viva a esperança de continuar na Copa. Houve um bate-rebate na área brasileira e a bola espirrou para o melhor jogador brasileiro que se preparava para recebê-la e comandar o contra-ataque. Antes disso, porém um forte zagueiro colombiano arremeteu-se em direção ao frágil garoto para impedir a jogada com uma joelhada nas costas do indefeso atacante. Só que, no preciso instante, do choque, eis que o brasileiro dá um passo à esquerda (talvez avisado pelos deuses do futebol) e escapa do ataque. O brutamonte se desmantela ao chão e, na jogada seguinte, a seleção brasileira faz três a zero – e todo o estádio aplaude de pé a jogada do menino de ouro, candidato a ser o craque da Copa.
O duelo contra os alemães na semifinal foi épico. As seleções se reencontravam em jogo decisivo em uma Copa do Mundo após a vitória brasileira na final de 2002, quando os brasileiros conquistaram o pentacampeonato. Até aquela fase da competição, os germânicos eram apontados como a grande equipe do torneio pela excelência de seus craques, pela organização e até pela simpatia que demonstravam junto à comunidade indígena que os acolheu no interior da Bahia, terra da felicidade. A catástrofe ameaçou toldar a empolgação dos brasileiros. O placar do primeiro tempo era implacável: 5×0. Veio o intervalo e, no segundo tempo, em uma jornada histórica, inolvidável, os brasileiros reverteram o placar para inacreditáveis oito a sete. O povo, em delírio, tomou ruas e praças saudando seus heróis, num imenso e contínuo carnaval.
O Maracanã, no Rio de Janeiro, foi palco da final, reunindo a maior rivalidade do Planeta. Brasil e Argentina enfrentaram-se em 90 minutos de um jogo equilibrado, com as defesas se sobrepondo aos ataques, embora houvesse uma ou outra oportunidade perdida por ambas as equipes. Veio a prorrogação, com disputa renhida entre as duas seleções. Faltavam alguns minutos para o término do prélio, quando o melhor jogador brasileiro (aquele que escapou de contundir-se em jogo anterior) acertou um sem-pulo e fez a bola aninhar-se no fundo da rede argentina para explosão de alegria e felicidade de 200 e tantos milhões de brasileiros. Foi a Copa das Copas, inesquecível, que celebrou a confraternização entre os povos e fez o mundo todo se curvar ao poderio do verdadeiro País do Futebol…
(”Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda” – John Ford)