“Amigo Palmeirense,
Neste momento devemos esquecer tudo – inclusive nossas certezas – e promover urgentemente uma corrente de apoio ao time e ao clube, independentemente das disputas políticas em curso. Vamos dirimir as divergências na instância e momento adequados. Não é hora de retaliações e pequenas vinganças. Na crise, é dever do torcedor palmeirense retribuir com a virtude da solidariedade as alegrias que esse grande clube já nos proporcionou. Reinstaurado em minha liberdade de torcedor – circunstancialmente ex-presidente – faço um apelo angustiado para a união de todos em torno do time e do clube que amamos. É hora de generosidade.
O grito, agora, deve ser uníssono: Avanti Palestra !”
*Luiz Gonzaga Belluzzo, torcedor apaixonado da Sociedade Esportiva Palmeiras
II.
Não era exatamente neste clima que os palmeirenses imaginavam reverenciar o centenário do clube da colônia italiana, fundado em 26 de agosto de 1914.
Meu saudoso pai projetava sempre como seria a data.
“O Palmeiras deveria convidar a seleção italiana para um amistoso no Parque Antártica – e depois voltaria a se chamar Palestra Itália.”
Para o pai, Palmeiras é apenas um apelido do velho e bom Palestra.
III.
Foi pelas mãos do pai que entrei, pela primeira vez, em um estádio de futebol. Óbvio, o Parque Antártica antes da reforma que o transformou em Jardim Suspenso.
Foi no jogo em que se inaugurou o busto de Waldemar Fiume, em outubro de 1958 (é o Google quem me informa, pois minha memória não anda lá essas coisas).
Eu tinha quase oito anos – e o pai disse anos mais tarde, lembrando aquele santo dia:
“Você já era um homenzinho, já usava calças cumpridas – e precisava viver aquele momento histórico”.
IV.
A cerimônia foi simples.
Um grupo de torcedores – uns 20 ou 30 – chegou mais cedo ao estádio e se reuniu nos jardins do clube. Houve aquela discurseira de sempre – e alguém descerrou a imagem do palmeirense Fiume para a eternidade.
V.
Bola rolando, o Palmeiras venceu o XV por 3 a 1.
O que mais me impressionou – serei sincero – foi o uniforme com listas horizontais do XV, os gritos de Ênio Andrade, o número 10 que orientava o time, e os dribles do ponta esquerda, um tal de Chinesinho.
Lembro que o pai comemorava os gols discretamente, apenas com um sorriso.
(Ô saudade do pai!)
VI.
No entanto, o que guardo de mais precioso daquele dia é a emoção que se renova e aflora toda vez que o Palmeiras entra em campo.
Por isso, entendo o apelo de Belluzzo – e lastimo os tristes dias que ora vivemos.
Avanti, Palestra!