Lembro o dia em que o então senador Franco Montoro visitou a Velha Redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, acompanhado de Almino Alfonso. Idos de 1982, mais ou menos por essa época. Montoro era candidato ao Governo do Estado e Alfonso concorria a uma vaga no Senado, ambos pelo MDB, o partido da resistência à ditadura.
Reynaldo de Barros era o candidato de Maluf e, por força das circunstâncias, representava os senhores do Poder, os generais de Brasília. Vivíamos a primeira eleição para um cargo majoritário, desde 1966, e outros candidatos eram (mais á direita) o ex-presidente Jânio Quadros e (mais à esquerda) o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, além de outros postulantes de menor expressão.
Os ventos da redemocratização do País animavam as gentes paulistanas – e, creio, de todo o País.
Os brasileiros iriam exercer o pleno direito do voto na chamada “eleição casada”. Você tinha que votar em vereador, deputado estadual, deputado federal, senador e governador; todos do mesmo partido.
Na cabeça da chapa, Montoro aparecia como favorito nas pesquisas de intenção de voto. Para surpresa dos situacionistas e conservadores, esse fenômeno ‘puxava’ votos para todos os demais cargos em disputa.
À época, alguém tachou a expressão: “Do jeito que as coisas estão, o MDB elege até um poste”
Para o grande jornalista e meu mestre, Tonico Marques, a situação era “periclitante para os ditadores de plantão”. Uma vitória acachapante (como afinal aconteceu) em São Paulo levaria inevitavelmente à luta pela eleição direta para presidente da República.
Dito e feito.
Nosso estado acabou sendo o cerne do movimento das Diretas Já que aconteceu em 84, sob as bênçãos do já governador Franco Montoro.
Mas voltemos àquela tarde ensolarada em que visitaram o jornal. Uma avalanche de denúncias e escândalos desabou sobre a chamada Oposição no horário eleitoral, com repercussão nas manchetes dos noticiários.
Aproveitei para questionar Almino sobre a pressão que ora viviam. Quais as consequências para o pleito que se aproximava?
A resposta veio de forma contundente e debochada:
– Ah, meu caro, como disse ontem a outro jornalista, isso tudo é o desespero da derrota que se avizinha.
Qualquer coincidência com os dias que se seguem, não se iludam, é mera semelhança.