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Tributo ao Nasci

Entre tantos e tamanhos mistérios que envolviam nosso dia-a-dia na velha redação de piso assoalhado e grandes janelas para a rua Bom Pastor, um permaneceu intocável por longos anos: a data correta de nascimento do nosso mestre e guru, o Nasci.

Como se dizia à época, o cara era “escorregadio e liso feito peixe”.

Não que quisesse esconder a idade, queria mais é que o dia passasse “em brancas nuvens” – outra expressão daqueles idos – e que ninguém o aborrecesse com as fanfarronices próprias a essas comemorações.

A musiquinha do “parabéns a você”, o “pique-pique”, os abraços de tamanduá e as piadinhas de praxe passavam longe dos desejos do Nasci.

Nunca o ouvimos falar em festinhas ou coisa que o valha, mesmo entre familiares e os mais chegados.

II.

A bem da verdade, quem conheceu a fera sabe bem que a vida para o Nasci era mesmo uma celebração diária.

Fizesse chuva, fizesse sol.

Quando estava no auge da carreira, nos áureos tempos da TV Record, saboreava as conquistas nas altas rodas e também nos bares e becos mais chinfrins. Quando retornou ao Ipirangão velho de guerra, em um momento de menor esplendor profissional, não deixou nunca de promover o bom humor e a alegria de estar pela aí, “nas quebradas dos mundaréus” – como diria Plínio Marcos -, rodeado de amigos e, por que não, admiradores.

Numa linguagem mais atual, de twiters e faces e afins (que à época não existiam), diríamos que éramos mesmo os seus fiéis seguidores – nós, jovens e inconsequentes repórteres daquele combativo jornal, e os agregados que, a cada fim de noite, reuníamos aqui e ali, nos vários Sujinhos da vida.

III.

Adorávamos ouvir suas histórias.

Muitas, eu as reproduzi neste Blog e nos livros que escrevi.

Duas das quais me são inesquecíveis: a assinatura do primeiro contrato de Elis Regina com a TV Record e a primeira vez que o Nasci viu um certo cantante de nome Roberto Carlos.

“O pessoal da Record levou Elis para o meu escritório na London Piblicidade e nós a convencemos a assinar com a gente. Sabíamos que a TV Tupi também queria fazer um programa com ela e nos antecipamos. Foi nessa hora que surgiu o nome de Jair Rodrigues que acabou de contrapeso nas negociações. Ela insistiu- queria o Jair à frente do programa com ela – e aceitamos. Foi assim que surgiu “O Fino da Bossa”.

“Havia uma empresária de nome Ivone que só trabalhava com novos talentos. Ela também estava em começo de carreira. Numa tarde, a Ivone me apareceu na Record com um rapazinho que só olhava para o chão e vestia um smoking, desses de aluguel. Eu era um dos produtores da programação vespertina que ainda era uma novidade nas transmissões de TV na época. Ela me falou que a CBS estava acreditando muito no rapaz e que eu o incluísse num dos meus programas. Estranhei o traje de gala para uma apresentação à tarde, mas topei… Ainda bem. Meses depois, Roberto era um sucesso”.

IV.

Nasci morreu em um ensolarado sábado de 1995, quase 20 anos. Não lembro bem se foi no velório ou dias depois, quando ainda lamentávamos a perda do amigo, que ouvi alguém comentar a data de aniversário do Nasci. Falou que era libriano, 3 de outubro.

Não dei qualquer importância para o fato, sequer cheguei a confirmar se era ou não verídico.

Hoje, ao acordar, olhei a agenda para programar o que aqui escreveria. Não sei bem o porquê associei uma coisa à lembrança daquele dia. Só então fiz as contas – e me dei conta que, se vivo fosse, o inesquecível Nasci estaria completando 80 anos.

Fica aqui meu tributo, e minha saudade.

(* Escrevi demais. Este post fica valendo por dois. Volto domingo.)

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