Tínhamos um desafio e tanto para aquele início de noite de terça-feira: escapar o mais rápido possível da redação e ir direto para o teatro do Sesc Anchieta, ali no Centro de São Paulo, em uma travessa da rua Maria Antônia.
Haveria uma sessão especial do filme “Vai Trabalhar, Vagabundo” para jornalistas.
– Estamos todos convidados.
Era o recado do Ismael, que escrevia sobre TV e cinema, dono do Fusca e que, por nada no mundo, queria se atrasar.
O Ruggiero, responsável pela coluna de teatro, também se arranjou. Iria direto da entrevista que tinha não sei com qual artista, mas que era ali pertinho, em uma travessa da Consolação.
Só eu mesmo me enroscara no fechamento de uma página – e queria
aproveitar a carona do paciente Isma.
II.
Por fim, deu tudo certo.
Chegamos a tempo para assistir a um dos mais deliciosos filmes brasileiros.
Quando gostava muito do que via na telona, o Ismael tinha o hábito de aplaudir freneticamente assim que os créditos de encerramento começassem a aparecer aos olhos da plateia.
Foi o que ele fez, puxando palmas de outros espectadores.
Eu, inclusive.
– É a sua cara, me disse o amigo ainda no saguão do teatro.
III.
Tinha razão.
Saí do cinema em estado de graça, enfeitiçado pela esfuziante trilha sonora assinada por Chico Buarque e me achando o próprio Secundino, o marrento protagonista da trama, o malandro carioca, idealizado e vivido, com debochado rigor, por Hugo Carvana.
Eu seria uma humilde versão paulistana.
– Um Beto Rockfeler mais escrachado, citou o Isma a lembrar o anti-herói de Bráulio Pedroso, outro inesquecível personagem da teledramaturgia brasileira.
IV.
“Vai Trabalhar, Vagabundo”, talvez tenha sido o principal momento da belíssima carreira de ator e direto de Hugo Carvana, que morreu ontem, no Rio de Janeiro, aos 77 anos.
Óbvio dizer que o Brasil fica mais triste, mais saudoso, entediante.
*Recado do blogueiro:
O voto é nossa arma para influir no destino do País.
Portanto, com consciência, todos às urnas.