“… é muito difícil vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos.”
*Ariano Suassuna, escritor
I.
Embora seja adepta do figurino da moda evangélica, Marina Silva enfrenta um momento de saia justa no atual momento da política brasileira. Com um capital de quase 20 milhões de votos, é a noiva cobiçada por tucanos e petistas para eventual relacionamento sério (leia-se apoio) no segundo e decisivo turno das eleições presidenciais.
Vale lembrar que Marina e Dilma, mesmo quando colegas de ministério aos tempos de Lula presidente, não dividiam o mesmo lado da mesa.
Há quem aponte essas desavenças como um dos fatores para a saída de Marina do Ministério e do PT.
Outros preferem a versão de que a escolha de Dilma como presidenciável em 2010, mas articulada ano antes, nos bastidores do Planalto, foi a pá de cal para sua mudança, à época, para o PV.
Marina imaginava-se, desde aqueles dias, com potencial, história de vida e ideário adequados para apostar em uma candidatura própria.
Foi o que aconteceu.
II.
Com um bom desempenho no pleito daquele ano – igualmente na casa dos 20 milhões de votos – precaveu-se em se manter neutra na disputa de segundo turno de então para cuidar de uma nova investida presidencial.
Se possível em 2014, com partido próprio, a tal Rede de Sustentabilidade. Não veio a Rede, mas, como todos sabem, quis o destino que Marina fosse candidata por uma aliança de partidos, comandada pelo PSB.
Chegou a liderar as pesquisas de intenção de votos. Mas, o sonho acabou (ao menos, por enquanto) no fim de tarde de domingo passado quando a que se propalou “terceira via” ficou fora do segundo turno.
Dá-se então o shakespeareano dilema:
Ser ou não ser – eis a questão.
III.
Ser ou não ser presidencial, meus caros.
Será que a moça vai abrir mão do sonho da Presidência?
Porque, se bem pensarmos, os dois caminhos a levam a este impasse.
Uma volta ao PT seria abrir mão da imagem de ‘mudancista’ que, em boa parte, lhe garantiu uma enorme fatia de votos, especialmente dos mais jovens.
Uma queda para o neoliberalismo tucano é apostar em políticas sociais e econômicas, com as quais nunca concordou.
Sem contar que Aécio eleito, é desde a primeira hora candidatíssimo à reeleição.
(Reeleição que, diga-se, a ex-candidata combate de forma contundente.)
Em sã consciência, o projeto Marina sobreviveria a mais oito anos?
IV.
A propósito:
Mesmo com os jornais paulistanos – que fazem campanha para Aécio – já anunciando nas manchetes de hoje o apoio de Marina aos tucanos, a assessoria de Marina acaba de divulgar nota dizendo que só na quinta sairá o posicionamento da coligação “Unidos Pelo Brasil” para o segundo turno.