“Uma história de amor e união marcou a cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, na última sexta-feira, 3. Casados havia 65 anos, Italvino Possa, 89, e Diva Alves de Oliveira Possa, 80, morreram lado a lado, com 40 minutos de diferença, em um quarto do Hospital São Lucas.”
*A Tarde – 08.10.2014
I.
Não sei bem o que lhes escrever sobre a notícia acima.
Mesmo assim, quis – sei lá o porquê – registrá-la aqui.
Tem alguma coisa nela que me faz acreditar que, mesmo a mais comum das vidas, traz em si algo de poético, de extraordinariamente belo.
Algo que, infelizmente, nós – os pretensos descolados e conectados e práticos e modernos – estamos vendo se esvair pelos vãos dos dedos.
II.
Às vezes, quase sempre, perdemos a noção do sentido da nossa existência por insondáveis motivos que nos fogem ao controle. Ou não saem exatamente como a gente quer ou aspira ou sonha.
Às vezes, quase sempre, são conquistas (ou perdas) materiais que nos garantiriam a tal ascensão social ou tão sonhado bem de consumo.
Quantas vezes nos deixamos levar por essas vãs aspirações.
Acabamos por deixar em segundo ou terceiro ou quarto planos o bem maior que é viver e ser feliz ao lado de quem nos ama e a quem amamos também.
Viver, ressalte-se, intensa e plenamente.
III.
Leio no corpo da reportagem que o Sr. Italvino e a dona Lívia viveram uma vida sem luxos ao lado dos filhos, dos netos e dos bisnetos. O romance começou em 1948 em um baile em uma pequena cidade do Rio Grande do Sul. Casaram-se no ano seguinte e não mais se desgrudaram.
Tiveram 10 filhos, 14 netos e seis bisnetos.
IV.
Dona Diva estava internada desde abril para tratamento de um tumor na bexiga. Sr. Italvino sofria de leucemia. Semana passada, ele foi visitá-la ao lado de
familiares e se emocionou ao vê-la. Ela não estava nada bem, tinha parado de falar e os médicos lhe deram poucos tempo de vida.
Dois dias depois, na sexta (dia 3), Sr. Italvino teve uma crise – e foi internado no mesmo hospital, onde todos conheciam a história do casal.
Decidiram então colocá-lo no mesmo quarto de Da. Diva.
Morreu horas depois.
– Parece que meu avô tinha desistido de tudo, disse um dos netos.
Quarenta minutos depois, ao seu lado, foi a vez de Dona Diva partir.