– Já votou hoje?
É a pergunta que mais ouço nas minhas perambulações na manhã de hoje. Foi dirigida ora a minha humilde pessoa ora às pessoas a quem perguntador encontrava fosse no balcão da padaria, fosse na portaria do prédio, fosse na banca de jornal, fosse onde fosse.
O sim ou o não da resposta era o que menos importava nessa hora.
O perguntador estava vivamente interessado em saber em que o cidadão havia votado.
Me soou como uma espécie de “olha lá, hein!”.
Talvez com a resposta ele (o perguntador) poderia enquadrar a mim e aos demais em um dos dois brasis que, neste exato momento, se defrontam nas urnas.
Sinceramente, não sei qual deles sairá vencedor.
O Brasil dos pobrões que invadiram os aeroportos ou o Brasil que ontem fez passeata pela avenida Paulista e, lá pelas tantas, pediu a volta da ditadura.
Não gosto desta divisão, nem do formato ‘luta de classes’ que, neste momento, se espalha perigosamente pelo País.
Prezo a construção de ‘um Brasil de todos os brasileiros’, expressão que ouvi, lá nos antigamente, do dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri quando ainda era secretário da Cultura do Município de São Paulo.
É o mote da minha escolha quando vou às urnas.
Aliás, foi a minha resposta a um conhecido que, na fila de espera da sessão eleitoral, me perguntou em quem votaria.
“Voto por um Brasil de todos os brasileiros”, disse em tom solene (que bobagem!).
O conhecido, que não via há anos, sorriu sem graça.
E eu lembrei-me da epígrafe do livro Viva O Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro:
“O segredo da Verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias”.