Os musicais ‘made in Brazil’ estão em alta.
Esses espetáculos têm como característica comum a inspiração da temática. Todos se baseiam na recriação da trajetória de vida de um grande nome do nosso showbiz. Um escancarado apelo à nostalgia dos tempos idos e vividos.
Lembro-me de, no passado, assistir algo do gênero em uma obra que recriava a obra do grande Orlando silva, o cantor das multidões. Não faz tanto tempo assim, o ator/protagonista era Tuca de Andrade e a peça não fez lá grande sucesso.
A moda pegou mesmo com a celebração à vida e obra de Tim Maia (que consagrou Thiago Abravanel como ator de primeira) e ganhou força com as retomadas das biografias sonoras de Rita Lee (com Mel Lisboa), Cazuza, Cássia Eller e agora a estreia no Rio de Janeiro de “Chacrinha – O Musical”.
Stepan Nercessian fará o tresloucado apresentador na fase mais popular de sua carreira.
Aliás, na entrevista concedida à Imprensa para promover o espetáculo, Nercessian destaca que a alegria toda que se via nos palcos, aquela anarquia, aquela festa não se fazia presentes na vida cotidiana do Velho Guerreiro.
“Fora do palco era um homem obsessivo, preocupado com a audiência” – disse ao repórter Ubiratan Brasil, de O Estado de S.Paulo.
II.
Sou um homem nostálgico, apaixonado por música popular brasileira. Escrevi sobre o tema durante muito tempo, entrevistei quase todos os acima citados – inclusive o Chacrinha e notei, à época, o semblante triste do homem que tantos nos alegrava, enfim…
Não entendo como resisto ao impulso de assistir a essas novas montagens, mesmo me entusiasmando quando tomo conhecimento da existência delas.
Eu as considero válidas, importantes. Valorizam a memória de uma cultura genuinamente nossa que, não raras vezes, é absurdamente menosprezada.
“Somos feitos de silêncios e sons”, diria o setentinha Nélson Motta em parceria com Lulu Santos.
III.
Lembro que a mesma sensação de sim e não me ocorreu, não faz muito, quando alguns amigos me convidaram para assistir à volta de Os Mutantes (com Zélia Duncan no lugar de Rita Lee). Foi um show no Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, onde trabalhei longos anos. Talvez por isso, o pessoal me garantiria um lugar privilegiado entre “os especialmente convidados”.
Não fui, e em nenhum momento me senti tentado a ir.
Era legal ver os Mutantes quando eu tinha 20 anos – e eles também.
Fazia sentido entoar o refrão sacudido de Benjor:
“Ela é minha menina
Eu sou o menino dela”
Hoje, pra lá de sessentão (eu e eles), nem tanto; concordam?
É coisa minha, eu sei.
É só um jeito de ver as coisas. Não precisa ninguém me acompanhar…