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Chespirito

Manhã de hoje. Lá está o homem a caminhar de um lado para o outro da calçada em frente ao Parque Cidade da Criança, em São Bernardo do Campo. Segura em uma das mãos os cordões de uma dúzia de balões coloridos que têm às mais diversas formas. Ele anda de lá pra cá, de cá pra lá a repetir os bordões de um conhecido personagem da TV:

– Sigam-me os bons.

– Não contavam com a minha astúcia.

Não preciso dizer, mas digo: o homem está vestido de Chapolin Colorado e me diz, entre um atendimento e outro, que cresceu assistindo aos seriados do humorista mexicano Roberto Bolaños (o Chaves e o Chapolin), que o SBT exibia (ou exibe?) no Brasil com extraordinário sucesso.

Bolaños morreu na quinta-feira, no México, aos 86 anos.

Para o vendedor ambulante, usar a fantasia neste fim de semana é uma forma de homenageá-lo. Ontem, sábado, ele já foi vestido assim.

– É chamativo, diz.

– Mas, tem um marquetezinho aí, também?

Provoco e ele sorri.

– Faz parte, né?

Mas, faz questão de ressaltar: na essência, é mesmo uma reverência ao artista. Que, de uma forma ou de outra, “fez a cabeça de várias gerações” – a dele, inclusive.

II.

O homem deve está batendo nos quarenta, se tanto. Fala que é ator e diretor de teatro infantil, é palhaço e se vira nos trinta “para levar um troco para a casa”.

Vender engenhocas e brinquedos para crianças é apenas um ramo do seu negócio.

– Acho divertido, além de estar no universo em que gosto de atuar. Viu o olhar da mãe da menininha que atendi agora? Ficou toda sem graça quando me viu de Chapolin. Deve ser fã do cara. Não sabia se ria ou se chorava. Acho que entendeu o recado da fantasia e da reverência.

III.

Confesso que não reparei nas expressões da jovem senhora.

Enquanto ele se afasta, eu penso no quanto de grandioso deve haver nesses personagens criados por Bolaños. Nunca assisti a nenhum episódio inteiro das séries, mas é indiscutível o sucesso que ambas fazem e a identificação com a meninada de toda a América Latina. Ainda hoje.

Quando volta, checo minhas reflexões com o rapaz.

– São tipos eternos, me diz o vendedor.

– Como o vagabundo de Chaplin, replico.

Meu interlocutor balança a cabeça afirmativamente. E se põe a imitar os passos do Vagabundo.

– Esqueci de lhe perguntar seu nome, desculpo-me

– Pode me chamar de Chespirito, diz e vai ao encontro de um grupo de crianças que desce de um ônibus que acabou de estacionar.

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