Maria Bethânia começa temporada de shows em São Paulo neste fim de semana (no HSBC Brasil).
“Abraçar e Agradecer”, o nome do novo espetáculo, tem direção e cenografia de Bia Lessa e reverencia os 50 anos de carreira da artista que tem trajetória única – e indiscutível – dentro da música popular brasileira.
Está entre as grandes intérpretes de um dos momentos mais brilhantes da MPB – os anos 60 – ao lado de Elis, Gal e Nara Leão.
Curioso lembrá-las agora e constatar o quão diferentes eram e, ao mesmo tempo, perceber a densidade e relevância da carreira de cada uma delas.
Nara foi a precursora de tudo.
Gal, a voz e a afinação.
Elis, a melhor cantora.
Bethânia, a grande intérprete.
II.
Um traço comum a todas: a consistência no ofício de cantar.
E o desbragado amor ao compositor Chico Buarque.
Inesquecíveis as leituras que cada uma delas deu à obra de Chico.
“Com Açúcar, Com Afeto” (Nara), “Atrás da Porta” (Elis), “Folhetim” (Gal) e “Sonho Impossível” (Bethânia) são canções que receberam versões definitivas e devem constar de qualquer antologia da MPB.
III.
Mas, voltemos à Bethânia, o tema do post.
Eu a entrevistei três ou quatro vezes à época em que era repórter nos cadernos de cultura dos jornais paulistanos.
Os jornalistas chegavam receosos à coletiva. A figura soberana da artista pairava distante e enigmática.
Bastavam alguns instantes de conversa para que esse climão se esboroasse.
Confesso: não havia como resistir ao poder de sedução da moça – misto de simpatia, simplicidade e verdades cristalinas que nos dizia abrindo um luminoso sorriso.
A mesma sensação que percebia nos comentários das pessoas que assistiam aos seus shows.
Estava inteira no palco – era sentimento, emoção.
Só cantava e/ou dizia o que acreditava ser dela e, por extensão, de todos nós.
Uma artista na acepção do termo.