Paulão imagina que sei tudo sobre Buenos Aires.
Um amigo lhe disse que viajo muito (nem tanto, meu caro, nem tanto) e que escrevi um texto legal sobre a cidade (“Morar em Buenos Aires, em 2006)
Pensa em ir para a Argentina, “passar uns três quatro dias”, em uma viagem romântica com a nova namorada – e pede algumas dicas.
“Quem sou eu, primo?” – como diria o saudoso Brandão Filho no célebre quadro “Primo Pobre, Primo Rico” em que dividia a cena com o grande Paulo Gracindo.
Não passo de um viajante parvo que chego aos lugares de olhos arregalados e alma leve. Envolvido pela delícia de estar ali onde se está, e sem qualquer outra preocupação de cumprir qualquer roteiro preconcebido. Não guardo nome de ruas, nem de monumentos. Raramente tiro fotos, e jamais o tal do selfie.
Caminho pelas ruas sem um rumo certo e, quase sempre, quem me acompanha reclama da minha total dispersão. Reclama mais: do tempo que perco nos cafés (adoro esses estabelecimentos que tem cadeiras e mesas na calçada). São nesses momentos que sinto o pulso da aldeia em que me encontro. Ou nada sinto apenas admiro o ir-e-vir da vida que acontece naquele exato momento, naquela cidade.
Brinco com o amigo: não sou proveito, sou pura fama.
Lamento decepcioná-lo, mas vou ficar lhe devendo como guia turístico.
Se me permite, Paulão, ouça o bom conselho, eu lhe diria para pura e simplesmente passar uns dias em Buenos Aires. Deixe que a cidade aconteça em você. Os passeios são aqueles mesmos que todos fazem: a Calle Florida, a avenida Santa Fé, La Boca e o Caminito, a Casa Rosada, a Praça de Mayo, Porto Madero, Palermo, a Feira de San Telmo (aos domingos), a Recoleta, o show de tango, o bife de chouriço, as livrarias e os cafés. Deixar de ver uma coisa ou outra não é nada demais. O que importa mesmo é a aventura de estar em Buenos Aires (ou em qualquer parte do mundo) de mãos dadas com a mulher amada.
Esta é a aventura. Esta é a viagem.