Foi um dia de muitas reuniões.
(Coisas do trabalho, nem vale à pena esmiuçar.)
Também de muita conversa.
(A pauta é a crise que assola o País. Aí a conversa se arrastou, houve algum bate-boca, mas não se chegou à nenhuma solução que esteja assim tão próxima.)
Ali, pela hora do almoço, alguém na mesa próxima à que eu e os meus estávamos citou a velha frase:
“A cada dia, a sua agonia”.
Eu propus que a mesma servisse de mote para encararmos o que a lida diária ainda nos reservava para o resto do expediente.
Pensei que o assunto estivesse encerrado, mas o Deodato, um professor recém-chegado na casa, veterano de tantas ‘guerras’ políticas, achou oportuno reacender as discussões, como o seguinte discurso.
Dois pontos e abre aspas para o Deodato:
"Lá no passado, o então presidente Jânio Quadros falou que foi obrigado a renunciar pelas “forças ocultas”. Ninguém lhe deu muita atenção – até por que o homem, convenhamos, era imprevisível em seus atos e feitos. Depois vieram os “milicos” – e eles, sim, estabeleceram o terror, a ditadura e estavam a serviço do imperialismo yanke. O Tio Sam era o monstro a ser combatido. Alguém lembra? Em meados dos anos 70/80 falava-se muito em um tal de “Sistema” que reinava soberano e implacável. Houve até um filme antigo, não lembro quem era o diretor que tratou do assunto. Desconfio que foi refilmado em 2013. Nesse ínterim, também se combateu o bom combate e se tentou extirpar Maluf, Collor, Zélia, ACM, PC Farias, Pitta, Sarney e outros tantos da mesma laia."
Ingenuamente a sensação que se tinha – ponderei – era de que, vencida essa batalha, o Brasil entraria nos eixos.
E o Deodato continuou o discurso:
“Clamamos pelo fim do neoliberalismo, lembram? Condenamos as privatizações. Agora…”
Imaginei que vinha chumbo e que, na sequência, haveria aquelas infindáveis discussões tão em voga hoje em dia.
Não houve como interrompê-lo.
“… bem, agora clamamos contra a presidente, o Lula, o Zé Dirceu; contra os petistas e os seus pares por todas as decepções que nos causaram e pelo “buraco negro” que nos assombra…
Esperei pela réplica de alguém por perto. Mas, foi o Portuga, dono do boteco/restaurante onde derrubávamos a bóia, que encerrou o assunto:
“O gajo, me diz, quem decididamente está por trás dessa bagaça, então?”
Não me contive – e respondi, de boa:
– Pergunta lá nos Posto Ipiranga,.. Afinal, nós viemos aqui pra comer ou pra conversar?