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Jeremias, o interventor (parte 7)

Ufa!

Fim do expediente.

Seu Mané baixou as portas de aço, como nunca dantes em sua vida. Aliviado, ansioso.

Queria chegar logo em casa. Até notou que Jacira, a tal e qual, insistiu em ficar além do tempo normal e, àquela hora da noite, naquelas circunstâncias, se ele lhe oferecesse uma carona, seria difícil segurar. A menina estava lhe dando um mole.

Ficou tentado, mas segurou a onda. Naquele dia, não. Estava ansioso, como disse. Ansioso, não.

Amargurado. Queria esclarecer aquela situação de uma vez por toda.

Vez ou outra, lembrava a intimidade com que o sacana do Jeremias lhe tratara hoje cedo.

“Lu, Lu… Que intimidade do malandro com a minha patroa!”, pensava e se entristecia.

Sabem aquela velha canção da Maysa – mesmo os mais jovens devem saber, porque andou tocando aí numa minissérie da globo – que diz “meu mundo caiu”?

Pois então, não quero assustá-los, não, leitores. Mas, lhes antecipo que serviria como uma boa trilha sonora para a recepção que o nosso Mané teve em casa assim que abriu a porta.

Dona Luzia lhe esperava para reviver os bons tempos. Os bons tempos dos esculachos na padaria.

Ela não deu sequer boa noite, e lhe sapecou uma saraivada de impropérios que deixou a alma e o coração tal e qual aquele famoso queijo suiço, repleto de buracos.

Para piorar, a pauleira terminou com o seguinte e bandeiroso recado:

– E nunca mais ouse incomodar o Jejê com perguntas sobre a minha vida. O coitadinho perdeu até fome. Tá me ouvindo, Mané? Nunca mais, ouviu?

(…)

Confesso que não sei ao certo o que dizer aos meus amáveis cinco ou seis leitores.

Sinto que devo continuar a história, é meu dever. Mas, imagino que, assim como eu, vocês também estão um tanto – ou muito – decepcionados com Dona Luzia, Luzia ou Lu, que seja!

Não é de minha competência julgá-la.

Por isso, sigo relatando o que pensou o Seu Mané:

(Sei o que pensou, óbvio, porque sou o autor dessa historieta – e todo autor que se preze tem acesso à ‘caixa preta’ dos personagens).

“Quer dizer que, enquanto eu trabalho duro para tocar os negócios do estabelecimento, me esfalfo atrás do balcão, a minha Luzia fica de papinho furado com aquele vagabundo, aquele salafrário, aquele…”

Bem, bem paremos por aqui.

O pensamento do Seu Mané continuou bem mais prolixo e, digamos, contundente. No entanto, e de forma até surpreendente, nada disse. Não pediu explicações. Sentiu uma tonteira, uma ardência no peito, não estava entendendo nada, mas, naquele átimo de segundo, teve a compreensão exata de tudo que estava se passando.

Deu meia-volta – e saiu.

* amanhã continua

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