O surpreendente de escrever crônicas – mesmo as mais chinfrins, como as que eu escrevo – é que elas, assim como as canções do passado, mais dia, menos dia, reaparecem como por encanto aos olhos de novos leitores. Segundo me contam alguns leitores, esses textos, especialmente na era do digital, se fazem bem presentes em sua vida como se fossem escritos para eles ou a retratar alguns momentos de suas vidas.
Ontem mesmo, uma jovem leitora M. veio conversar comigo aqui na Universidade sobre um texto que postei em 31 de outubro de 2006 e que se chama “A Filha Mais Nova do Seo Libório”. Disse que se identificou com a história (não vou descrevê-la aqui; se quiserem conhecer dêem um Google e divirtam-se) e, como leu recentemente, se espantou quando olhou a data.
Perguntou se a história era verdadeira, e quis saber se ainda existem jornalistas como o Almeidinha, românticos e…
“… carentes”, me antecipei.
– Nada disso, ele é um fofo – respondeu M. com ar de censura.
Há gosto para tudo nessa vida.
Agora “fofo” era única coisa que o Almeidinha não era nessa vida – e provavelmente nem em outras encarnações. Por que o que faltava no cara era carne. Magro que só, não sei por onde anda o amigo e, me permitam a sinceridade, nem sei se ainda anda…
Não é maldade minha, juro que não. É que o homem pertencia à velha guarda da Redação e… sabe-se lá, né?
Aliás, se quiserem – vocês e M. – saber mais dele, o Almeidinha reaparece em outra crônica, digamos, romântica que postei no Blog em 10 de julho de 2007 e que leva o seu nome. *
Mas vamos aos esclarecimentos que M. me pediu.
Não posso garantir, mas é muito provável que já não se faça Almeidinhas jornalistas como antigamente.
Os tempos, como bem definiu Zigmunt Bauman, “são de amores líquidos, nada para durar”.
Quanto a crônica sobre a enigmática filha mais nova do Seo Libório, eu a escrevi em 2004 e não a publiquei em veículo algum.
Achei entre meus perdidos textos, na desorganização absoluta que domina a memória do meu computador e a publiquei em 2006 quando o Blog ainda
engatinhava – tinha meses de vida.
A narrativa inspirou-se em uma crônica fantástica, A Primeira Mulher do Nunes, de Rubem Braga, publicada em outubro de 1957. Teve como trilha sonora um velho samba, Seu Libório, de João de Barro e Alberto Ribeiro, feito em 1936. E foi inspirada numa moça que vi, por não mais que cinco segundos, num parque nos arredores do Museu de Van Gogh, em Amsterdam. Que me pareceu brasileiríssima.
Imaginei, então, quantos saudosos amores deixara no Brasil.
Foi então que me lembrei do Almeidinha, daquela noite no restaurante Lellis e de toda a história.
***
”Almeidinha”, a crônica, também foi publicada em meu segundo livro “Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões”, publicado em 2010. “A Filha Mais Nova do Seo Libório” está selecionada para o novo livro “Amores vãos”, ainda sem data de lançamento.