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Toque de bola

O Nasci dizia que eu deveria deixar de arabescos e me dedicar unicamente ao jornalismo esportivo.

À época, anos 80, eu “atirava” para todos os lados em busca de alguns trocados. Trabalhava na Gazeta do Ipiranga (era editor) e fazia frilas para um tantão de lugares.

Escrevia sobre o que pintasse, mas gostava mesmo de entrevistar os cantores/compositores e escrever sobre música popular brasileira.

Por ocasião das copas do mundo, na falta de grana para contratar um profissional especializado em futebol, eu me arriscava no tema, chegando mesmo a desenvolver uma coluna semanal que chamei de “Toque de Bola”.

Ao longo desse período, entrevistei uma penca de jogadores e ex-jogadores, técnicos, dirigentes e afins. Luiz Pereira, Tião, Valdemar Carabina, Filpo Nunes, Telê Santana foram alguns dos meus entrevistados. Também fiz cobertura de alguns jogos e até de torneios de várzea, como o histórico “Desafio ao Galo”.

Para ser sincero, entendia mais como divertimento do que como trabalho.

Nesse contexto, a entrevista que mais gostei de fazer foi com um antigo técnico chamado Caetano De Domenico, um senhorzinho que já passava dos 80. Ele era uma simpatia e uma verdadeira enciclopédia do futebol brasileiro. Treinou clubes como o Ypiranga, o Juventus e o Nacional, entre outros. Estava aposentado, mas orgulhosamente se dizia inventor da “cerradinha”, uma marcação mais individualizada e próxima ao que hoje entendemos como retranca.

Ele destacava o jogador mais esforçado do time dele e o colocava para fazer uma vigilância implacável em cima do melhor jogador do time adversário, invariavelmente bem mais poderoso que o dirigido por De Domenico.

Naquele tempo, me disse o veterano treinador, era impossível aos clubes menores saírem vitoriosos de campo quando enfrentavam o Trio de Ferro paulistano.
– Se não fizéssemos assim, não tínhamos a menor chance com Corinthians, Palmeiras e São Paulo

De Domenico, porém, fez uma ressalva.

– Quando os craques do time queriam jogar, não havia esquema que segurasse.

E riu gostosamente.

Para acrescentar, convicto:

– Técnico não ganha jogo. Pode ajudar a perder, mas ganhar, ganhar, é raro…

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