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Doutor Marceleza

Pergunto a uma amiga comum a mim e a ele:

– Por onde anda o Marceleza?

E a Arlete me responde:

– Está em Portugal, fazendo doutorado em Comunicação Social.

Que beleza!

O Marceleza é bem assim mesmo. Aparece e desaparece sem maiores explicações e/ou justificativas.

– E precisa, meu querido? – parece que ouço o malandro dizer.

Aliás, a proposta de um doutorado em terras lusitanas é prova cabal de sua imprevisibilidade.

– O Brasil não está fácil, mermão – outro diálogo imaginário que faço com a lembrança do amigo distante.

II.

Como assim, há alguém entre os meus amáveis cinco ou seis leitores que não se recordam do Marceleza?

Pensei que todos soubessem, me perdoem.

É que, vez ou outra, o bom-malandro dá as caras por aqui, com seu humor e histórias que não são poucas.

A mais recente foi agorinha, em fins de agosto (dia 24), no post “Marceleza e a falta d’água’.

Quem quiser, pode ir lá conferir que tem até um mini-currículo da figura.

III.

Grande Marceleza!

Trabalhamos juntos por alguns anos aqui na Universidade e também desenvolvemos alguns projetos profissionais para levantar algum troquinho a mais no fim do mês.

Um desses projetos foi sobre jornalismo regional que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais nos encomendou em meados da década passada.

Dávamos aula em conjunto e, confesso, não havia dia que ele não me surpreendesse.

Lembro que, certa vez, diante de uma temática proposta por um dos alunos – os processos comunicacionais e a globalização – ele não hesitou:

– Deixa comigo que eu respondo, disse o Marceleza.

IV.

E logo se pôs a narrar a história do leão que escapou do controle do domador e da jaula em um circo, desses bem mambembes. Os espectadores ficaram tão assustados que trataram de correr em busca de proteção. Formaram-se vários grupos que se amparavam nos pontos mais altos das arquibancadas. Um mais à direita do picadeiro central; outro mais à esquerda.

E o leão a rugir, pra lá e pra cá, tão ou mais espantado que o pessoal.

Só então alguém se deu conta de que uma senhorinha, bem senhorinha mesmo, continuava ali, estática, na primeira fila, bem próxima ao animal enfurecido.

Feito o alarme, todos se puseram a gritar:

“Coitada da velhinha, coitada da velhinha, coitada da velhinha”.

V.

Ela estava tão assustada que não conseguia se mexer.

Parecia uma estátua.

E o leão a rugir.

E o pessoal a gritar:

“Coitada da velhinha, coitada da velhinha, coitada da velhinha”.

Chegou no ponto de açodamento a situação que a senhorinha se encheu de coragem, subiu na cadeira, pôs as duas mãos em concha diante da boca, imitando um alto-falante, e berrou bem berrado:

“Ô, meus filhos, por favor, deixem o leão escolher sossegado!”

– É assim que funcionam os processos comunicacionais a partir do fenômeno da globalização – completou o nobre amigo.

VI.

Não me surpreenderia se essa hipótese não seja o fio condutor de sua tese de doutorado.

Só acrescentarei mais uma coisa: as universidades portuguesas nunca mais serão as mesmas, depois que o Marceleza passar por lá.

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