Sou convidado para falar a estudantes de jornalismo cultural sobre música popular brasileira. O colega professor que gentilmente me convida é relativamente jovem –na faixa dos quarenta e tantos – e entende se vale da minha modesta trajetória como repórter que trabalhou na área lá nos longínquos anos 70, 80 e um tantinho dos 90.
Essas propostas de estar com os jovens e falar um pouco da minha experiência sempre me deixam lisonjeado. Mas, pondero a ele: tem certeza de que a garotada vai se interessar, em ficar hora e tanto, a ouvir as histórias deste senhorzinho de ralos cabelos grisalhos sobre uma época que não mais existe.
Sim, porque os tempos são outros.
E ando um tanto em descompasso com eles.
As gravadoras já não são as todas poderosas senhoras do destino de cantores/compositores.
TV e rádio não têm o poder de persuasão de outros tempos.
Os artistas se viram nos trinta/quarenta/sessenta para fazer e acontecer.
Estão ‘cobertos’ por assessores, empresários, secretários e palpiteiros para dar rumo e destino às carreiras.
A indústria do showbiz tem hoje tentáculos virtuais e, ao menos para mim, perigosamente desconhecidos.
Entrevistei uma penca de artistas que hoje não constam das tais playlists.
“São os tiozinhos da MPB”, como me disse outro dia um dos meus tantos e quantos sobrinhos netos.
Entrevistar Elis, horas antes de ela entrar no palco para protagonizar o espetáculo “Transversal do Tempo”, me é inesquecível.
Ouvir Raul Seixas, acreditem, uma lição de vida.
Ver o brilho no olho da chamada Geração de Briga no começo de carreira – Ivan Lins, Gonzaguinha, Alceu, Belchior, Ednardo, Fagner, o pessoal do Clube da Esquina, Zé Ramalho, Walter Franco – era acreditar que o sonho era possível.
Isso para não falar da turma dos anos 60. Caetano, Gil, Benjor…
Me empolguei no discurso – e nem me dei conta que o meu interlocutor estava a remoer sérias dúvidas.
Interrompeu o que eu dizia – e me perguntou:
– Professor, uma dúvida: quem é Walter Franco?
Ele percebeu meu desalento e, creio, entendeu minha preocupação com os tais novos tempos.
Disse a ele que procurasse no Youtube e que achava melhor adiar o tal encontro.
Ele concordou, óbvio.