Até os sabiás mudaram sua rotina para escapar ao trânsito de São Paulo.
Como assim?
Que história é essa?
Sabiá não voa, pois então que caspita o trânsito tem a ver com o ir e vir dos pássaros.
Calma, prezada leitora e afável leitor.
Calma que lhe explico (a partir da reportagem que assisti em um dos noticiários da TV Globo, desconfio que na sexta à noite).
Seguinte.
A história toda não é com o bater de asas do bichinho – e, sim, com a cantoria que os mesmos promovem cada vez mais cedo nos bairros da metrópole.
Muitos paulistanos, inclusive, estão reclamando que a sinfonia dos pássaros se dá em plena madrugada – três, quatro horas da madruga. E, não raras vezes, acaba por aporrinhar o sono de muita gente – especialmente quem pega no batente logo às primeiras horas da manhã.
Segundo a reportagem que ouviu especialistas no assunto, o canto é a maneira que o sabiá tem para atrair a fêmea, além de demarcar o território onde habita, tipo “esse galho de árvore é meu, e não quero que nenhum outro macho metido à besta apareça por aqui, enquanto eu estiver romanceando com a bela sabiá que aqui chegar”.
Com o ruído dos automóveis, caminhões, ônibus e outros insensíveis meios de transporte, o laraiá do bichinho acabava abafado e o pobre morria à míngua de amores não consumidos e solidão.
A solução, de algum sabiá mais espertinho – e logo imitado por outros -, foi antecipara hora do canto. Ele próprio perdia algumas horinhas de sono – mas, pelo jeito, valeu à pena; pois, a coisa toda virou rotina na vida da espécie.
O que é a natureza? – como diria o grande Zé Trindade.
Em tempos de sentimentos líquidos (dá-lhe Bauman) e amores fortuitos, não deixa de ser uma lição de vida esta que os sabiás laranjeiras nos dá.
A vida sem amor é um cantar sem ser ouvido.