Dou sequência à conversa de ontem com os estudantes de jornalismo e à santa inquisição a que fui submetido (diria que sem merecer tamanha importância).
Prometi um resumão a vocês, no post de hoje.
Vamos a ele:
I.
Trabalhei em dezenas jornais paulistanos – alguns dos quais já desapareceram como o Diário da Noite, o JT, o Shopping News, a Revista Afinal, entre outros -, mas, de forma mais ampla, fiz a base da minha carreira em Gazeta do Ipiranga, onde fundeei sonhos, amigos saudosos e muitas, muitas, letrinhas em reportagens mil.
Fui editor-responsável pelo jornal por mais de 20 anos, e diria mesmo que vivíamos um momento mágico. O jornal chegou a ter 60 mil exemplares semanais, cobríamos toda a região do Grande Ipiranga, era uma equipe e tanto de profissionais (a começar pelo mestre e guru Nasci), além de reunirmos colaboradores/colunistas de renome nacional, como Carlos Monforte, Lilian Witte Fibe, Alberto Tamer, Ismael Fernandes, entre outros.
Na Gazetinha, por exemplo, tomei contato com a coluna do Fernando Sabino (que publicamos por dois ou três anos) e foi fundamental para que eu me iniciasse nas sutilezas da crônica e do jornalismo, diria, mais humanizado.
II.
Não saberia lhes dizer qual foi minha melhor reportagem – se é que houve uma.
Gosto de lembrar a cobertura que fizemos (eu e toda a equipe de GI à época, formada pelas repórteres Regina Maria Curuci e Leila Kiyomura, mais o repórter-fotográfico Cláudio Michelli) sobre a campanha das Diretas-Já, lá nos idos de 1984.
Foi mesmo uma epopeia.
Bonito ver os grupos de moradores do bairro em algumas manifestações a exibir a primeira página de GI como cartaz de incentivo à participação popular.
Não tínhamos pudores em rasgar fotos e manchetes, com o título “Diretas-Já” em letras garrafais.
III.
Fiz outras matérias memoráveis (ao menos, para mim), na área de música popular. Entrevistei quase todos grandes nomes da época. Ficaram faltando dois – Chico Buarque e Nara Leão. Particularmente gosto dos encontros que tive Benjor, Raul Seixas, Zé Ramalho (assim que chegou a São Paulo para lançar seu primeiro disco) e outros tantos. **
O mais relevante, creio, foi a entrevista com Elis Regina horas antes de ela se apresentar no palco do Teatro Brigadeiro, onde encenava o espetáculo “Transversal do Tempo”.
Mas, nem tudo foram flores no caminho.
Também entrevistei o Serginho Mallandro (brincadeira, ié, ié..) e, acreditem se quiserem, foi divertidíssimo. Bati cabeça atrás do Tomzé para uma matéria sobre os festivais – e não o encontrei. Tive uma ‘exclusiva’ com Gonzaguinha numa tarde em que ele estava num mal-humor danado. E, desafio dos desafios: entrevistar Beto Guedes, um dos ícones do Clube da Esquina, às vésperas do primeiro show em São Paulo.
Mineiro de Montes Claro, o rapaz era de uma timidez absurda. De cabeça baixa, diante dos repórteres, mal nos olhava – e por mais que elogiássemos o novo disco, era monossilábico nas respostas. Ora balançava a cabeça encenando um “sim”, ora fazia o mesmo gestual para sacramentar o “não”. Quando não sabia o que responder, franzia a testa…
Mal ouvimos sua voz.
*amanhã, eu volto…
** algumas dessas reportagens estão no site. Confira lá, no ícone “Leia Esta
Canção”.