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Papo com Escova. Para salvar o dia de ontem…

Em um dia como o de ontem, de profunda tristeza por tudo o que acontece neste Brasil que nem sei mais se é de Meu Deus, prefiro conversar com o Escova sobre a amenidades e causos que passam bem longe do pântano que se tornou Brasília.

A bem da verdade, é difícil fugir do noticiário nosso de cada dia – e das mazelas do Brasil de hoje – apesar de que temo dizer que seria o Brasil de sempre.
Escova fala do assalto ao cantor e apresentador Ronnie Von em plena a Marginal em uma noite dessas.

– Levaram tudo do homem – lamentou o Escova, ressaltando o que disse o artista já na delegacia:

“O País acabou.”

– Desconfio que ele tenha razão. Mas, esta é uma sensação que a maioria dos brasileiros sente – e não é de hoje.

A crítica, a contundente crítica, ressalta o meu amigo, vale para todas as instâncias de Poder – a federal, a estadual, a municipal; seja no Executivo, seja no Legislativo e, acredite, até no Judiciário.

Vamos mudar de assunto – digo ao Escova, meu velho companheiro de estrada, dos tempos da velha redação de piso assoalhado e grandes janelas para a rua Bom Pastor.

– Você viu que demoliram o prédio da Gazetinha, ele diz já com um brilho nostálgico no olhar.

Eu arremato:

– Escova, vamos falar de coisas boas. Não sei se é hora de lembrar aqueles idos tempos, os amigos, os sonhos…

Quem disse que eu o convenço?

– Dizem que vão fazer um prédio de apartamentos lá. Tem até uma placa anunciando ‘o novo empreendimento’. Até que seria uma boa se a gente morasse em um desses apês, não acha? Olha a ironia do destino…

Dou risada das viagens do amigo.

– Não tem nada a ver, respondo. – Vamos deixar o passado no passado. Tocando e seguindo em frente, como na canção do Renato Teixeira.

Escova é rápido no gatilho, e na resposta.

– Cara, você assistiu ao documentário sobre o Chico?

Ele fala do belíssimo “Chico Buarque – Um Artista Brasileiro”, de Miguel Faria Jr, que está em cartaz em São Paulo.

Digo que sim e que o filme está entre os melhores momentos que vivi neste conturbado ano de 2015.

– Pois, então, meu caro, vou lhe confessar: chorei feito garoto mimado quando não lhe atendem o desejo ao ver, em cena, a cantora portuguesa Carminho interpretando “Sabiá”, que Chico fez em parceria com Tom Jobim, nos idos de 60. Que emoção…

– Como pode? – pergunto. – O Chico não tinha 30 anos quando fez essa letra que tão bem retrata aqueles tempos obscuros, e tristes. Coisa de gênio!

Ah! O Escova, o Dom Juan das Quebradas do Sacomã, tal e qual os velhos lobos, perde o pelo, mas não perde o vício:

– E eu cara? Só agora, na curva dos 70, fui descobrir a Carminho… Tão bonita! E como canta!!!

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