A moça me procura para saber o que exatamente significa a expressão ‘borogodó’. Diz que um rapaz lhe disse que ela tinha um borogodó de fazer inveja a qualquer uma e a por em xeque o juízo de qualquer um.
Dou um zoom na moça, e sou obrigado a concordar com a avaliação do rapaz que imagino não ser tão rapaz assim, pois o termo é das antigas.
– É coisa boa? – ela pergunta.
Depende do seu interesse pelo rapaz, respondo e lhe explico: consta nos dicionários que borogodó é algo assim como um atrativo pessoal irresistível. Não é beleza propriamente dita, mas é também. Não é só uma questão de charme, mas é também. Não é apenas sensualidade, mas é também e, desconfio, principalmente.
– Entendi, diz a moça. – É assim como dizer ‘você é um tchan’?
Quase isso, digo. Mas, não é bem isso. Repare: ‘tchan’ é pobrinho de tudo. Borogodó é um tantinho mais, brasileiramente mais. A expressão em si ganhou uma boa popularidade com o apresentador e produtor musical Osvaldo Sargentelli lá pela década de 70. Ele bolou um show só de mulatas “tipo exportação” que fez enorme sucesso entre os nativos e os turistas que aqui aportavam.
Sua casa de espetáculos Oba-Oba em plena Avenida Paulista tinha lotação esgotada quase todos os dias. Sargentelli dizia que o sucesso da iniciativa se devia inteiramente ao borogodó e ao ziriguidum das suas mulatas.
Mesmo com o tom professoral das minhas palavras, a moça ainda me olhava desconfiada; diria, que quase sem entender.
– Borogodó, ziriguidum… Acho que ele estava me xavecando, disse.
Pode ser, retruquei.
Mas, não é certeza. Só um próximo encontro poderia definir o ó do borogodó e o ziriguidum entre os dois.
– Hã!!! Como assim?
Baguncei a cabeça na moça, mas creio que, lá no fundinho, ela sempre soube o que o rapaz (não tão rapaz assim) estava querendo…