Anotações esparsas sobre tudo e sobre nada, enquanto aguardo ser atendido na fila para pegar a senha da vacina H1N1.
I.
Mesmo com o sol a pino – e talvez até por isso – ninguém está com cara de bons amigos por aqui.
Aliás, nosso País (nosso?) anda longe da harmonia.
Na fila e na vida, radicalizo: estamos fadados ao descontrole.
Enfiamos o pé na jaca e na crise.
E agora o tal País do Futuro vive uma grande farsa.
Ou você acredita que o Congresso está firmemente empenhado em salvar o Brasil?
Pois, então…
Uma farsa que até pelos antecedentes históricos que já vivemos – e nem faz tanto tempo assim
– pode desencadear uma grande tragédia.
Todos sabem que os lados do confronto são rigorosamente iguais.
“Tiramos esta – e coloquemos aquele. Tudo resolvido”.
Ô, cumpadi, não se iluda.
Sabemos que não é assim.
É simplória demais a solução.
São mais dos mesmos.
II.
Nossa tenra democracia não se consolidou.
Diria, se me permitem, que ela não se propagou para além do ato de votar. Deveria, sim, espraiar-se pelas mínimas condições de vida para todo o brasileiro.
Falo em saúde, educação, moradia, transporte, emprego, respeito à diversidade, respeito ao próximo…
Em um mundo de futuro nebuloso, afogado em informações, redesenhado pelas novas tecnologias, fragmentado por interesses escusos, não há como sustentar os tentáculos da dominação, da opressão, como em tempos idos e havidos.
As vozes das ruas – no campo e na cidade – estão pela aí.
Ecoam.
Mas, dilaceradas pelo ódio e pela intolerância, não promovem o entendimento.
Nem aqui, nem em nenhum lugar do Planeta.
III.
Tremem os pilares do que imaginávamos ‘sólidas instituições’.
Falo do Executivo, do Judiciário, do Legislativo (quantos são hoje os 300 picaretas da canção dos Paralamas?), do tal quarto Poder…
Pobre Imprensa. Perdeste o senso, e o juízo.
Para os amigos, tudo…
Triste, triste, vê-la adotar este mote fascista.
IV.
Quais os desafios que se nos apresentam?
Repetir os padrões sociais do Norte?
Apostar no consumo exacerbado como forma de ser?
Imaginar que nós somos eles?
(Miami, Orlando, é logo ali para os bem-nascidos.)
Às favas, nossos propósitos sociais.
Identidade cultural?
Do que falamos?
Lembro o preclaro Milton dos Santos, o professor doutor que tanto pensou e almejou um Brasil melhor:
“A liberdade é a forma suprema de felicidade”.
Andamos tão longe dessa plena conquista.
(Ao menos, por aqui, a fila andou e logo chega a minha vez. Fim dos devaneios e da manhã de sábado.)