Pensei em escrever sobre a participação calhorda da Imprensa (com raras exceções, óbvio) no Golpe que acaba de ser perpetrado na democracia brasileira. Tenra, frágil e, agora, também dissimulada por impostores que chegam à Presidência.
Triste espetáculo.
No entanto, acato o bom conselho do papa Francisco aos brasileiros e embarco na linha do “diálogo”, da “harmonia” e da “paz” neste momento tão conturbado, triste.
Desconfio que eu e os da minha geração não verão tão cedo reconstruído o estado de direito que acaba de ser estilhaçado com a farsa do impeachment de Dilma.
Enfim…
Nenhuma novidade no que escrevi até aqui. Aliás, esta vem sendo minha cantilena desde que eclodiram “as notáveis intenções” de Caiado, Bolsonaro, Berlusconi Skaf e Cia.
II.
Vamos lá…
Diálogo, harmonia e paz, Rodolfo. Coragem.
Movido pela proposta papal, eu perdoo aquele respeitável senhor que surpreendi em pleno almoço, imagino, familiar a propor o assassinato de Lula e Dilma como solução para todos os nossos males.
Reparem no detalhe. Ninguém à mesa reagiu à fala.
Mas, mesmo à distância, percebi que muitos dos comensais concordavam com a manifestação.
Faz algum tempo, foi em um renomado restaurante da metrópole.
Mas, em nome do papa Francisco, eu o perdoo e a todos. Até porque sequer os conheço.
Vida que segue. Foi só uma bravata momentânea.
III.
Acorro a um amigo próximo, tucano juramentado, que “odeia”, palavra dele, o Lula, a Dilma e toda a corja dos petralhas.
Pergunto.
Por que tanto rancor nesse coraçãozinho abençoado?
– Não sei. Não gosto. Odeio os caras, o discurso, a voz, eles roubaram o País…
Percebi que a harmonia aqui passa longe.
Beleza, tento fechar o assunto.
Mas ele faz questão de ampliar o espectro da argumentação:
– Sabe o que é? É que estudei nos Estados Unidos e lá…
E lá elegeram o Bush e agora querem o Donald Trump, quase retruquei, mas…
IV.
Diálogo, harmonia e paz. O mote que o generoso Francisco nos passou.
Tentei o diálogo, a harmonia… adotemos a paz.
Finjo que recebi um zap no celular e me afasto apressado, como se tivesse que atender a um grave chamado.
Paz, irmão, paz.
V.
Peço a devida vênia ao papa, e recorro então ao poeta Mário Quintana para serenar meu coração.
“A todos aqueles que aí estão
Atravancando meu caminho.
Eles passarão…
Eu, passarinho!”
VI.
“Poeminha do Contra”, Quintana o escreveu como resposta às três vãs tentativas que fez de entrar para a Academia Brasileira de Letras.
Perdeu todas, injustamente. Chegaram a escolher um ex-ministro do general/presidente/ditador João Figueiredo para o seu lugar.
Lavou a alma, com lirismo – e se fez “imortal” pela dimensão da sua obra.
Hoje, o Sarney e até o FHC, aquele, usam o fardão da ABL.
VII.
Estão vendo?
O Brasil é um país de injustiças.
Se não fosse assim, não teríamos o poema.
E eu não saberia, tão suavemente, como encerrar o texto.