O amigo me diz que almeja morar no Porto.
– Aqui não dá mais.
Outro, mais modesto, mas igualmente desencantado, fala em ir para o Uruguai, o país do Mojica, aquele que foi presidente e mora numa pequena chácara e tem um velho Fusca como meio de transporte.
O Mojica tem uma sábia reflexão em sua biografia, recém-lançada entre nós. Ou melhor, tem várias, mas destaco a que mais me fez repensar a vida.
É mais ou menos assim: quando mais temos, mais nos tornamos reféns da necessidade de ter. Compensamos uma vida de padrão modesto, com a liberdade de vivermos da maneira que escolhemos viver.
Pode parecer pouco, mas não: é tudo o que deveríamos tentar fazer.
Deixamos a sapiência do grande Mojica de lado e voltemos ao amigo que quer se mudar e já escolheu até a cidade.
– Chama-se Piriapolis e fica perto de Punta Del Leste…
“É um pequeno paraíso”, completa ele.
Ouço a conversa deles e me animo:
– Gostaria de morar em uma aldeia na Itália, em uma ilha do Caribe, nos arredores de Mônaco…
Desisto logo dos meus aloprados planos.
Não tenho a “bala” financeira dos meus interlocutores. Também não me arriscaria em terras estranhas. Não saberia viver longe dos meus.
Talvez nem tenha mais idade para essas aventuras.
O jeito é tocar a vida da melhor maneira que pudermos mesmo nesses tempos de TEMERidades cotidianas.
Pinço algumas que colhi no noticiário de ontem.
I.
Sônia Braga, atriz presente no Festival de Cannes:
"A televisão é importante porque no Brasil as pessoas têm pouco tempo ou dinheiro para irem ao cinema. Não é por falta de sofisticação que os filmes brasileiros não são tão populares, é porque ir ao cinema acaba comprometendo o orçamento das pessoas."
Sobre estar afastada da TV, foi bem franca: entrou com um processo na Justiça contra a Globo a respeito de direitos de imagem.
"Eles não pagam direitos aos atores quando reprisam as novelas. Quando disse que processaria a Globo, me disseram: Vai perder. Eu perdi."
II.
Revira aqui, mexe ali. Soube-se que o novo ministro da Saúde, o deputado federal
Ricardo Barros, teve a campanha financiada por planos privados.
Ôlaiá…
Qualquer coincidência é pura semelhança.
III.
Enfim, se escolheu o líder do governo na Câmara Federal, o deputado André Moura.
Ops…
O homem é acusado em investigações no Supremo Tribunal Federal por suposta tentativa de homicídio, ocorrida na cidade sergipana de Pirambu, em 2007. Ele também é suspeito de envolvimento nas tramoias da Lava jato.
IV.
E vamos que vamos…
O lobista Fernando Moura teve seus benefícios suspensos no processo da delação premiada. E voltou a ser preso, segundo determinação dos próceres da República de Curitiba.
Motivo: Moura não liquidou o pagamento da multa estipulada e mentiu em depoimento.
O nome do senador Aécio Neves aparece em um de seus relatos.
V.
Há outras tantas e tamanhas.
Mas, creio que por hoje está de bom tamanho.
Só acrescento a sugestão de leitura: o artigo Apocalipse do Jornalismo, publicado ontem pela Folha de S.Paulo, de autoria do jornalista Mário Vitor Santos.
Um trecho:
“Jornalismo deve informar os fatos de pontos de vista diferentes e contrários, encarnar ideias em disputa, canalizar o entrechoque de versões, sublimar antagonismos.
Veículos brasileiros, ao contrário, quase todos em dificuldades financeiras e assediados pelos novos hábitos do público, uniram esforços na defesa de uma ideia única. Compactaram-se em exageros, catastrofismo e idiossincrasias. Agruparam-se de um lado só da balança, fortes para nocautear um governo, mas fracos para manter sua própria razão de existir, a autonomia.”
Mário Vitor foi secretário de Redação e ombudsman da FSP e é doutor em letras clássicas pela Universidade de São Paulo
Deem um pulinho até o Google. Vale a pena conferir!