Eu já lhes contei aqui, mas retomo hoje esta historieta porque ando em uma fase um tanto quanto nostálgica. Que reviver os idos da infância parece uma boa saída para os males que nos afligem nesses tempos áridos.
Há também uma inspiração para esses devaneios. A data. Em 6 de junho de 1840, morreu o Irmão Marcelino Champagnat, aos 51 anos.
Conforme aprendi nas aulas de Religião, Champagnat foi beatificado em 1955 e (aí eu soube pelos jornais) proclamado santo pelo papa João Paulo II em 1999. Ele é considerado o "Santo da Escola" e fundador da Congregação dos Irmãos Maristas, com instituições de ensino espalhadas por todo o mundo. Só em São Paulo, no meu tempo de garoto, havia três colégios – o Colégio do Carmo (no Centro), o Arquidiocesano (na Vila Mariana) e o Glória (no Cambuci), onde estudei.
Feita à breve introdução, vamos aos fatos.
Como já lhes disse, eu estudava no Glória, e modestamente adorava a chegada do mês de junho. Motivos não faltavam. Se as provas bimestrais assustavam, a proximidade das férias de julho garantia a saborosa sensação de estar livre para jogar futebol, empinar "papagaio", rodar pião; enfim ser feliz.
Para melhorar o espírito da garotada — eu inclusive –, o 6 de junho era feriado — e que feriado!
Imagine o que é para um garoto ter um dia livre, sem aulas, enquanto todos os demais mortais estão ou indo para a escola ou para o trabalho. Ele (o garoto) se sente o rei do universo, um privilegiado.
Era assim que me sentia naqueles inesquecíveis 6 de junho.
O álibi era a reverência a Marcelino Champagnat, mas, além da missa das oito, a data era de festa, e a tônica das celebrações eram os torneios interclasses que eram organizados pelos irmãos Demétrio e Fidélis. A bola rolava solta nos dois campinhos de terra batida que havia no Colégio Nossa Senhora da Glória.
Houve ano em que a seleção do Glória – e eu como um zagueiro de bons recursos técnicos, gostaram da modéstia? – enfrentou a seleção do Colégio Santista, tido e havido como fortão no reino da bola.
Outra vez recorro a modéstia para não dizer o resultado. Vencemos ou empatamos, não lembro.
Lembro, sim, que essas eram as únicas manhãs do ano em que acordava antes do pai me chamar e ficava ansioso pela chegada do bonde que me levaria da rua Bom Pastor à rua Lavapés – eu morava no Ipiranga.
Ainda agora tento descrever, mas não consigo, a delícia de entrar em campo com o uniforme de camisas listradas em azul e branco do Glória.
Quanto encantamento.
Só é menor do que a saudade que hoje sinto “da infância querida que os tempos não trazem mais”.
Salve Casemiro de Abreu, autor dos versos de “Meus Oito Anos”, embora eu fosse mais crescidinho nessa época, mas fica valendo a emoção.
Bênção São Marcelino Champagnat. Que ainda me guia e guarda nesses dias áridos…