Dunga foi recebido com aplausos no aeroporto de Porto Alegre assim que chegou do Rio de Janeiro. Ele acabara de ser demitido do comando técnico da seleção brasileira – e foi cético em seu prognóstico.
“Nada vai mudar.”
Vale para a seleção, vale para o futebol brasileiro.
vale para o País.
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Após três horas de interminável conversa, Tite saiu do suntuoso prédio da CBF no Rio de Janeiro – imagino eu – sem qualquer certeza do que o futuro lhe reserva.
O sonho de dirigir a seleção brasileira está em suas mãos – e o irmão de Tite diz que ainda hoje ele confirma o sim. No entanto, o interlocutor à sua frente (quem lhe faz a proposta, repleta de promessas) está bem distante de ser alguém em quem confiar plenamente (uma realidade que hoje vive com os dirigentes corintianos; o técnico pode até não concordar em muitos pontos com os administradores do clube de Parque São Jorge, mas o respaldo que estes lhe oferecem é amplo e irrestrito).
Daí a dúvida.
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O papel aceita tudo: nomes, sobrenomes, projetos, intenções, parcerias eternas.
O papel aceita tudo mesmo. Tanto que, em dezembro passado – e nem faz tanto tempo assim -, um abaixo-assinado de esportistas ilustres que pedia a saída de Marco Polo Del Nero da presidência da CBF recebeu o apoio e o aval do técnico Tite.
Será que Del Nero e a CBF mudaram tanto assim?
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Na esteira dos fatos, o dia de ontem ficou também marcado pela aprovação, no Conselho de Ética da Câmara Federal, do processo que pede a cassação de Eduardo Cunha, o malvado da vez.
Cunha ficou indignado com tamanha injustiça. Promete entrar com recursos e mais recursos nas diversas cortes para salvar o mandato e a pele. Ameaçou inclusive levar com ele, se o barco afundar mesmo, outros 135 deputados que se deram bem ao longo desses anos todos.
– Só isso? – perguntaria o Primo Altamirando (recorro ao inesquecível personagem de Stanislaw Ponte Preta na ausência indesculpável do amigo Escova num momento tão conturbado como este que vivemos).
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Penso que vivemos sob o estigma de dois vexames recentes. No âmbito esportivo, não nos recuperamos do 7 a 1 que tomamos da Alemanha em plena Copa do Mundo em nosso país. Em termos de sociedade, ainda não assimilamos – queiramos ou não – as consequências da escabrosa sessão plenária de 17 de abril [quando a Câmara aprovou o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff.
Não nos livramos dessas síndromes.
Por isso as mudanças que se fazem necessárias patinam, confundem, isolam homens e ideias
A dúvida/dívida persiste: muda Brasil!