Maria Bethânia completou ontem 70 anos de vida – e arte.
Cumpre-me reverenciá-la em nosso humilde espaço, mesmo que com um dia de atraso.
Está entre as grandes cantoras da nossa música popular. Dalva de Oliveira, Ângela Maria, entre outras poucas e tamanhas.
Ombreia-se entre as melhores de sua luminosa geração – Elis, Gal, Nana, Clara.
Também se põe ao lado de Nara Leão ao forçar que a mpb saísse do gueto, com um estilo próprio e inconfundível.
Foi ela quem disse ao mano Caetano ‘para ouvir aquela canção do Roberto’ – e, de alguma forma, inspirou o Tropicalismo e todas as revoluções sonoras que se ouviu desde então [até os anos 90, pelo menos].
Vale sempre ressaltar a originalidade desta baiana de Santo Amaro da Purificação como intérprete. Seja pela densidade do repertório, seja pela versatilidade de atravessar gêneros e ritmos musicais, seja pelo fascínio que espalha dentro e fora dos palcos.
No início dos anos 70, reinventou a maneira de uma cantora se apresentar. Seus shows eram elaborados, flertavam com a dramaturgia, incluíam falas e poesias de Fernando Pessoa.
Foi um sucesso extraordinário.
Um dado que considero relevante: nunca se atrelou às mídias de massa, nem fez qualquer concessão à indústria fonográfica. Sempre foi única e inconfundível, independente até mesmo dos denominados ‘movimentos musicais’ que pipocavam àquela época.
Certa vez, em uma entrevista coletiva em meados dos anos 80, eu perguntei a que “tribo” ela pertencia?
(Ô perguntinha tola, meu Deus!)
Bethânia, generosa e rindo, respondeu:
“A todas, e a nenhuma. Meu ofício é cantar”.