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Um amor de chinesinha

A chinesinha posou toda faceira em um chat de encontros na internet. Cabelos curtos, blusa amarrada logo abaixo do busto, cinturinha de pilão, barriguinha de fora, olhar convidativo…

O quarentão Sander Pieter Cirk, na distante e fria Holanda, não resistiu. Tecla daqui, tecla dali, aquele papinho frouxo, a ilusão de viver um grande amor (ou a obsessão natural dos dias que vivemos) e, dois meses depois, o rapagão não pensou duas vezes. Comprou uma passagem só de ida para China e lá se foi o Quixote atrás de sua Dulcinéia virtual.

II.

Ninguém avisou o marmanjo que uma coisa é uma coisa, outra coisa é…

Bem, deixa pra lá.

A vida anda, cada vez mais, muito competitiva. O que se tecla no aconchego do lar, madrugada adentro, não se sustenta ao raiar da manhã. Quase sempre é o que acontece.

Não avisaram ao prezado Sander que o século do romance e do amor sem fim acabou quando Frank Sinatra morreu.

Alguém duvida?

Eu, hein!!!

III.

Sigamos com a nossa historinha.

Vinte e tantas horas de voo em classe econômica depois, sem contar as conexões, o gajo despenca no aeroporto da China cheio de amor e carinho e…

E nada da moçoila aparecer.

Espera que te espera. Que a esperança é a última que blábláblá… Só que a Dulcinéia de olhinhos puxados não deu nem sinal de vida.

(Soube-se depois que estava longe dali, em outra cidade, a submeter-se a uma cirurgia plástica para ficar ainda mais encantadora. Nada sabia sobre a iniciativa do rapaz que lhe emeiou o bilhete com número do voo, horário de chegada e o escambau. Elazinha imaginou que fosse uma ‘pegadinha’ e não juntou o lé com cré que, mesmo em chinês ou qualquer outro idioma, significa dizer: deu o maior toco no gringo.

IV.

Vamos lá.

Sejamos humanos. Ponha-se você, amigo leitor, no lugar do ‘príncipe de Holanda’. O que faria?

Fique aí remoendo as ideias enquanto eu lhe digo o que fez o nosso chegado.

Nada.

Pois é. Não fez absolutamente nada.

Ficou por ali vagando pelos saguões e corredores do aeroporto durante 10 dias. Alimentou-se de macarrão instantâneo, bebeu água nos bebedouros, dormiu nos bancos de espera até que…

V.

Não, a moça não chegou.

Quem lhe pegou foi mesmo uma crise de diabetes. Que o deixou mais pra lá do que pra cá.

Quem o socorreu foram os seguranças do aeroporto.

Eles o levaram para o hospital mais próximo.

Todo Dom Quixote que se preze tem lá seu Sancho Pança de plantão. Mesmo que esses vestissem farda e nada entenderam do que o homem dizia.

VI.

Quando os médicos chineses colocaram o homem minimamente em pé trataram de despachá-lo de volta à Holanda onde foi recebido pelo pai, pela mãe e irmão.

Ah! Quase esqueço…

Os ‘abutres’ da imprensa também estavam lá para registrar, agora nas mais diversas plataformas multimídias, o que restou do holandês apaixonado.

Amparado nos braços dos familiares, o gringo não se acanhou. Enfrentou os repórteres sem temor. Disse que as mulheres são assim “tímidas” (ai, ai, ai, sabe nada o inocente) e mais: ainda não sabe dizer se ele vai voltar à China ou se a linda moçoila que virá visitá-lo em terras da rainha.

VII.

Testemunhas da chegada, num amplo trabalho de reportagem deste modesto Blog, garantiram que, enquanto Sander falava aproveitando seus 15 minutos de fama, o pai dele balançava a cabeça negativamente, dando a causa como perdida. Ao final da entrevista, soltou sonoro e definitivo veredito:

“Meu filho continua em surto. Onde foi que eu errei?”

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