6 de outubro, hoje.
O Senhor Diretas completaria, nesta data, 100 anos.
Jornalista adora números redondos.
Logo viram notícia…
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O Senhor Diretas – assim era conhecido o deputado federal Ulysses Guimarães (1916/1992), um dos pilares da redemocratização do Brasil.
Foi ele quem encabeçou, ao lado de uma frente suprapartidária, a mais importante manifestação popular – e progressista – que este País teve notícia.
Falo das Diretas-Já, em 83, 84.
Falo e ressalto: já naqueles tempos, a TV Globo preferia esconder essa realidade da vida de seus milhões de telespectadores. E fingia que nada acontecia nas ruas e praças. Tanto que, na manifestação da Praça da Sé, em 25 de janeiro de 1984, as equipes de reportagem da emissora foram saudadas pela multidão com um corinho que ainda hoje lhe é peculiar:
“O povo não é bobo. Fora Rede Globo”.
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Foi só uma lembrança, oportuna lembrança; voltemos ao assunto do dia…
Parece um dom poder lembrar Ulysses Guimarães.
Por vezes, no auge do respeito, nós o chamávamos de Doutor Ulysses. Em respeito e reconhecimento pela coragem e pela árdua tarefa de enfrentar cotidianamente as vicissitudes daquele período de arbítrio e obscurantismo.
É dele a mais emblemática postura de resistência diante dos Poderosos de então. Lançou-se candidato a Presidência da República – mesmo sem chance de vitória no Colégio Eleitoral – em contraponto ao ungido general Ernesto Geisel.
Foi nesse momento da História que ocupou a tribuna do Congresso para, em pronunciamento, citar Fernando Pessoa e nos ensinar o caminho da luta:
“Navegar é preciso. Viver não é preciso.”
Sim, amáveis cinco ou seis leitores que ora me acompanham, parece um dom poder lembrar Ulysses Guimarães.
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Outro gesto generoso do notável político: abrir mão da candidatura presidencial em 1985 em prol do nome de Tancredo Neves para não por em risco o processo de abertura.
Mesmo no famigerado Colégio Eleitoral eram favas contadas a vitória da Oposição, pois o nome de Paulo Maluf, o candidato da Situação, era intragável até para a própria Situação.
Doutor Ulysses sabia do veto que os militares lhe faziam – e, em nome do País, preferiu não arriscar.
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Aliás, essa generosidade – esse sentido de coletividade – era uma das marcas do venerando político. Em março de 1985, diante da impossibilidade de Tancredo assumir a Presidência em razão do agravamento da doença e posterior morte, a Constituição determinava que o presidente da Câmara Municipal assumisse temporariamente o cargo e projetasse a realização de eleições diretas.
Aquele era o momento do Doutor Ulysses, o presidente da Câmara e o virtual candidato à Presidência.
Mesmo assim, e levado por um sentimento maior, pensou na estabilidade social e não se opôs à posse de José Sarney, o vice de então, nome oriundo da Arena/PDS, partido que dava sustentação aos militares no Poder.
(…)
Parece um dom lembrar Ulysses Guimarães, especialmente em dias como o que hoje vivemos. Dias tristes, desalentadores quando aventureiros, oportunistas e usurpadores se apoderam dos rumos de um País cada vez mais intolerante e… sem rumo.