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Dia de Finados

Eram anunciadamente tristes os dias de Finados nos tempos de Tchinim criança-de-tudo.

Era terminantemente proibido ser feliz nesse data.

Um riso que fosse, mesmo as crianças, eram admoestadas e ameaçadas com o castigo se não se comportasse.

Era um dia para se respeitar e pensar nos mortos, diziam os pais. Para ir ao cemitério do Araça, onde estavam sepultados o vô Rodolfo e a vó Rosina, os italianos pais do pai. Mas, ambos se foram antes de o garoto nascer.

Por isso, Tchinim não via motivos para ficar triste.

Ele podia brincar, claro. Em casa, e em silêncio. Sem correria e, principalmente, sem esse negócio de ficar chutando bola.

– Vá ler um de seus gibis, vá…

Desconfio que a mãe de Tchinim também não se sentia confortável nesse dia.

Não se ligava a TV Invictus. E o rádio só tocava música instrumental, dessas bem melodiosas e suaves. Nadica de nada das radionovelas que a Dona Yolanda tanto gostava e acompanhava o dia todo na Rádio São Paulo.

O pai tentava disfarçar. Falava em visitar as irmãs no fim de tarde. Dava um ‘pulo’ no Bar do Pepino para ver os amigos. Mas, penso que lamentava profundamente o não funcionamento do Jóckey Club no feriado.

As igrejas também eram bastante frequentadas. As mulheres acendiam velas “aos entes queridos que se foram” e usavam um véu negro a lhes cobrir a cabeça.

Aliás, todos usavam roupas sóbrias e escuras.

E assim o tempo parecia se arrastar penosamente.

Por mais que não amasse as aulas do Grupo Escolar Oscar Thompson, Tchinim torcia para que o dia passasse depressa e logo voltasse a vida normal.

Era um menino sonhador – e, naquele instante, para ele, a vida não passava de uma grande brincadeira.

A boa nova é que já estávamos em novembro – o que, de certa forma, já era prenúncio de que o mês de dezembro não tardaria. E o garoto já antevia as alegrias das férias escolares, do Natal e dos presentes…

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