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Vozes dissonantes

A apresentadora da CBN perguntou ao entrevistado, um professor aposentado da USP:

– Professor, as ocupações são moda?

– As ocupações são sintoma, minha cara – respondeu ele, em tom de desacordo; não com a ação dos secundaristas, mas com a insinuação embutida na pergunta.

E não parou por aí.

Continuou a elencar os equívocos de um Brasil desorientado, com um governo ilegítimo, que atravessa o mais sombrio período democrático pós-ditadura de 64.

Entre os deslizes, o professor destacou a falácia de se confundir educação com ensino.

Ouvia o programa enquanto dirigia a caminho da Universidade. Quase parei o carro no acostamento da Anchieta para aplaudir tão oportunas ponderações.

II.

A radialista, que imaginava talvez levar a entrevista para o outro lado, ainda teve que ouvir a fina ironia do professor à frase do Verdugo:

– Talvez eles (os estudantes) não saibam exatamente o que seja uma PEC, mas sabem bem as necessidades que enfrentam em seu dia-a-dia.

Hummm…

O diálogo se estendeu, mas não pude acompanhá-lo. Estacionei o carro e corri para a reunião que me esperava.

Ainda bem que há vozes dissonantes ao discurso chapa-branca que grassa solto nos grandes meios de comunicação.

Fiquei imaginando a saia justa da moça no estúdio da rádio, enquanto a conversa com o entrevistado tomava um rumo diferente daquele que ela queria.

III.

Sou do tempo das redações combativas, e barulhentas.

Desconfio que não sejam mais assim. Já me disseram que as redações andam muito chatas. As pautas chegam já devidamente embicadas para salvaguardar as aparências.

E que se cumpra às ordens.

Uma pena.

Quem perde é a sociedade!

O jornalismo ainda é uma trincheira para a construção de um mundo melhor.

Ou não?

IV.

Faz alguns dias notei que todos os veículos de comunicação anunciaram, com pompas e circunstâncias, que a Petrobras iria baixar o preço dos combustíveis.

– A boa nova da semana – ouvi alguém dizer.

Essa redução chegaria ao consumidor que pagaria 0,05 centavos de reais a menos.

Não vi ninguém, ninguém mesmo, dizer que nas últimas semanas houve uma majoração de 0,40 a 0,50 centavos por litro nas bombas.

No mês passado, eu pagava 1,99 o litro do etanol num posto perto de casa que fazia uma promoção. Hoje, pago 2,39 e dá pra se ler no cartaz que a promoção continua…

Que redução é esta, compadre?

V.

Como não lembrar Millôr?

Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.

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