Tchinim sempre foi um garoto esperto, como dizia o Cido, um carioca que morava nas quebradas da rua Mazzini, lá no Cambuci. Só porque o menino adorava acompanhar o pai nas noites de domingo no Bar Astória, na esquina da rua Lavapés.
Era ali que a italianada se reunia para se divertir.
– Vamos festar! – definia o Seu Júlio, o relojoeiro do bairro.
Traduzindo: a turma jogava Patrão e Sotto, enchia a cara de cerveja, cantava, conversava e principalmente lembrava lugares, pessoas e breves histórias dos tempos de Itália.
Tchinim aproveitava ser a única criança presente. Era o mascote da turma. Tinha passe-livre para tomar quantos Caçulinhas aguentasse, além de encher o bolso de balas Toffes que grudavam nos dentes, mas eram deliciosas de tão docinhas e caramelizadas.
Só havia um senão que o deixava contrariado: quando os belos cismavam de recordar de um time de futebol que morreu em um desastre de avião em 1949 – um antes dele (Tchinim) nascer.
Os italianos – inclusive o pai, que tinha um cartão com a fotografia do tal de Torino em uma das gavetas do criado mudo – começavam entusiasmados, falando dos feitos e das glórias dos campeões. Que o time era a própria seleção italiana. Que vestia a camisa mais linda do mundo, na cor grená. Que nunca houve equipe tão poderosa. Que o melhor jogador era o Mazzola, incomparável. Nem o Leônidas da Silva ou o Zizinho ou Jair da Rosa Pinto lhe faziam frente.
Alguns deles diziam ter assistido às exibições dos craques quando estiveram excursionando pela América do Sul e se exibiram em São Paulo e no Rio.
O único time que os venceu foi o Corinthians porque “a rapaziada já estava enfastiada de golear quem os enfrentava”.
Para a turma do Astória, eram verdadeiros deuses da bola. Pentacampeão italiano.
Até que aquela fatalidade… Voltavam de um amistoso contra o Benfica, de Portugal, quando o avião que trazia o time todo colidiu com a torre de uma basílica e…
Bem, nessa altura, todos estavam consternados e choravam feitos crianças.
– Difícil entender o porquê?
Na singeleza de seus 5 ou 6 anos, quem nada entendia era o próprio Tchinim. Como os adultos conseguem passar da alegria para a tristeza em poucos minutos?
(…)
Desconfio que, hoje, o Tchinim não deve atender por este apelido dos tempos de criança. É um circunspecto senhor e, seguramente, está tão triste como os amigos do saudoso pai.
Há tristezas que são por demais profundas – e inexplicáveis.
Sabe, porém, que heróis verdadeiros a gente nunca esquece.
(…)
Minha total solidariedade à Família Chapecoense.
Minhas orações a todos que se foram nessa tragédia.
O Brasil está de luto!
É uma das páginas mais tristes da história do Planeta Bola!