“Foi um rio que passou em minha vida”. O enredo que deu a vitória à Portela no Carnaval carioca, após 33 anos de jejum, é claramente inspirado no samba homônimo, feito e consagrado por Paulinho da Viola, lá nos fins dos anos 60.
Paulinho vivia uma fase incrível, como compositor. São desta mesma safra alguns de seus melhores sambas; entre os quais, a emblemática composição, “Sinal Fechado”, vencedora do último Festival da MPB, realizado pela TV Record em 1969.
“Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe …
Quanto tempo… pois é …
Quanto tempo…”
Deu nome também a um célebre elepê de Chico Buarque, um dos primeiros a gravar a canção.
II.
Mas voltemos ao tema de hoje.
O samba “Foi um rio que passou em minha vida” nasceu de uma polêmica que surgiu à época.
O fato:
Ao lado do amigo Hermínio Bello de Carvalho – e por insistência dele -, Paulinho foi coautor de outro samba belíssimo, “Sei Lá, Mangueira”, de enorme prestígio a época.
Como título sugere, era uma reverência de amor à Estação Primeira de Mangueira, rival da Portela nos desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro.
A consequência:
Deu ruim para o compositor.
Pois, a origem de Paulinho – e sua escola de coração – era a azul e branco.
Ficou um climão em Madureira.
Os portelenses acharam que o menino talentoso, após os primeiros sucessos, havia se bandeado para os lados da Mangueira.
Magoaram-se, e com alguma razão.
III.
Não era motivo para tanto.
Dizia Paulinho:
Foi só um samba composto ao lado de um grande amigo e parceiro.
IV.
Em meio a essa polêmica, surgiu a voz do bom-senso.
A solução:
O pai de Paulinho, César Faria, violonista do grupo Época de Ouro, fez a sugestão:
– Faz um samba para a Portela, então.
Não sei se as palavras foram exatamente essas.
Sei que, como bom filho, Paulinho muniu-se da mais sensível das inspirações e fez o maravilhoso “Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida”
Fim da historinha, ou quase.
V.
Conheci o samba em uma de suas primeiras audições. Paulinho o inscreveu em um festival mambembe, Feira Permanente da Música Popular Brasileira, promovido pela TV Tupi, com direção de Fernando Faro.
Eu estava na plateia. Tinha 19 anos, todos os sonhos do mundo. E o meu coração se deixou levar…