Tudo tem limite
exceto
o amor de Brigite
(…)
O miniverso de Drummond era bordão na voz do Almeidinha em dia de fechamento. Era o veterano jornalista que comandava a Redação quando ali cheguei em meados dos anos 70. Todo vez que um de nós – os jovens repórteres – derrapava na curva, escrevia mais do que devia, retardava a entrega do texto ou aprontava alguma que atrasasse a entrega da edição à oficina, a primeira cobrança vinha em forma de poema.
Era o tempo que o editor nos dava para apressar o serviço.
A segunda cobrança já era um sonoro palavrão.
Dali em diante era…
(Não gosto sequer de me lembrar.)
II.
O estresse fazia parte da nossa rotina.
Aliás, não estou certo se conhecíamos a expressão.
Dizíamos que o dia tinha sido “uma pauleira”.
De qualquer forma, fosse qual fosse a expressão usada, ela não nos tirava do eixo. Jornal na gráfica, rotativa funcionando, vida que segue. Tudo voltava ao normal – ou quase, era hora aproveitar o que ainda restava da noite.
Saíamos em bandos para o primeiro boteco aberto que encontrávamos. Alguns só batiam o ponto e zarpavam. Quem podia ia se deixando ficar, entre uma golada e outra, um assunto e outro, uma zoeira e outra. Claro que o esporro do dia era devidamente desconstruído na base do deboche. E sempre havia o mais abusado para fazer uma imitação do Almeidinha no auge da cólera.
Ele estava presente – e era o que mais ria da pantomima.
Já um tanto breaco, o Almeidinha se desmanchava em desculpas – e prometia que não repetiria mais “tamanha grosseria”.
Nós o desculpávamos, claro. Mas, só fingíamos que acreditávamos na promessa.
III.
Ainda nesta semana, assisti ao Bola da Vez, programa esportivo da ESPN/Brasil, com o técnico Mano Menezes. Lá pelas tantas da boa conversa, o apresentador João Carlos de Albuquerque perguntou a ele sobre o seu comportamento à beira do campo durante os jogos. Está sempre reclamando do juiz, vociferando com um, com outro; bastante diferente do homem esclarecido e claro nas posições que defende, com voz mansa e tranquila que ali se apresentava.
Mano fez um méa culpa que me pareceu sincero. Disse que quando revê as cenas, fica muitas vezes constrangido. E mal se reconhece naquele “alemão” descontrolado.
Culpou a adrenalina de quem está dentro das quatro linhas.
IV.
Não sei porque associei a imagem do Mano ao do saudoso Almeidinha. Que, naqueles idos, jogava para “a pauleira” do fechamento o motivo dos seus transtornos.
Achei que exagerava na minha nostalgia.
V.
Na noite de quinta, estou de bobeira vendo jogo entre Chapecoense e Cruzeiro, o time de Mano, quando vejo o técnico tentar atrapalhar o jogador Reinado, da Chape, a bater um lateral próximo a ele.
A cena foi um tanto patética, e absolutamente condenável.
Até o boleiro deu risada do ridículo da situação.
VI.
Estava sozinho na sala de casa. Mesmo assim,não pude conter o comentário:
‘Nem o Almeidinha chegaria a tanto”.