“Êêêê… Cambada! Corja! Malta!”
Lembro a expressão de indignação do vô Carlito toda vez que via algo errado. De muito errado. Seus xingamentos eram sempre no coletivo.
Diante da TV, vendo a sessão do Congresso que mandou pro chapéu a denúncia contra o Ilegítimo presidente, fico a imaginar como definir a atuação dos parlamentares, diante do microfone do Plenário.
II.
“Facínoras!”
A fala agora que me vem à mente é a do xerifão dos filmes de cowboy que marcaram minha infância e adolescência.
Na trama, o ‘mocinho’ era verdadeiramente ‘mocinho’ e o ‘bandidão’ se dava mal no final.
(Acho que hoje não é exatamente assim…)
III.
“Filhos da… ****”.
E o palavrão ressoaria pelos ladrilhos brancos das paredes do Bar do Arlindo, dito pelo próprio dono enquanto singelamente prepararia um conhaque duplo para si e quem mais se dispusesse a acompanha-lo no brinde ao país que um dia sonhou ter um futuro promissor. Para todos os brasileiros.
IV.
“Tem jeito não. Nem Jesus salva”.
É a vez da moça evangélica de trança cumprida e saia, idem, manifestar-se. Bíblia na mão, a caminho da igreja onde professa sua fé numa vida melhor.
V.
“Picaretas! ”
Exalta-se o motorista do Uber que me resgata em frente à universidade e me leva de volta pra casa, ouvidos atentos ao andar da votação no rádio do carro.
VI.
“Isto é uma vergonha! ”
Imagino que assim terminará o comentário do jornalista Bóris Casoy, se soubesse por onde anda o primeiro âncora da TV brasileira.
VII.
“A maior ameaça ao presente e ao futuro do Brasil está em Brasília, tem palácios, torres, cúpulas – e muito roubo” – escreve hoje, na Folha de S. Paulo, o jornalista Jânio de Freitas.
VIII.
Como sou um homem simples, do Cambuci, que nada sei da vida (apenas que ela é uma só e passa rápido que a gente nem sente), desligo a TV e tento me consolar cantando aquele refrão que o saudoso Bezerra da Silva consagrou – e é a trilha sonora dos nossos tristes dias:
“Se gritar pega ladrão…
Não fica um, meu irmão”