Permitam-me, pois, continuar a conversinha de ontem…
Perdoem-me, se puderem.
Sei que pode lhes parecer embaraçoso o fato de eu estar, com este exemplar nas mãos (que só agora reparo na data – e é de sábado, 14 de julho) a me perder por essas divagações que os prezados leitores, com razão, vão achar extemporâneas.
Fazer o quê?, considerados.
É deste ronronar de sensações de hoje e de ontem que são feitas as crônicas e a vida, concordam?
(…)
Lembro que, quando cheguei na Universidade no século anterior, 1998, já abrira-se o debate e os estudos sobre o propalado desaparecimento dos veículos impressos. Para dali a 5, 10, 20 anos.
Cá estamos… 2018.
Vívíamos, então, a primeira bolha da internet no Brasil, o aparecimento retumbante dos primeiros portais – Uol, Ig, Terra, Aol (devo ter esquecido alguns) – que contratavam jornalistas por salário quatro, cinco vezes maior do que estes profissionais recebiam em uma redação tradicional.
Os arautos do novo desenvolviam dissertações e teses sobre o tema. Nas reuniões e assembléias dos doutos senhores a discussão giravam em adaptar o currículo do curso de Jornalismo aos novos tempos.
(…)
Noviço que era na área da Educação, ficava na miúda. Nesses encontros, sempre ouvi mais do que falei; mas, de certa forma, sabiam que era voz dissonante neste discurso.
Há um tempo que é de fogo; outro que é de água.
Ouvi a frase de Gilberto Gil numa coletiva de Imprensa, da qual participei como repórter. Foi há milênios, mas sempre lembro a frase em ocasiões nebulosas.
A conclusão é minha – e nada original:
Há um tempo pra tudo na vida.
Aquela era, portanto, uma discussão precoce, e sem qualquer embasamento naquela altura do jogo.
O que estaria por vir?
(…)
Mal sabia eu que as grandes reportagens rareariam.
E o jornalismo embicaria para esta grande encruzilhada. É um serviço público? Um negócio como qualquer outro? Por isso precisa ser rentável e se mostrar atraente a públicos e interesses específicos. Ou continuará sendo a tal da expressão do pensamento social que peleja pelo dito bem comum e pelas transformações sociais?
Os jornalões – principalmente eles – eram o depositário óbvio e natural das chamadas grandes reportagens. Impactavam e faziam movimentar a opinião pública. Hoje, elas quase inexistem e, quando as encontramos, o texto, o estilo do texto, é irrelevante; o que importa são os áudios, os vídeos, os gráficos, as animações e outros recursos tecnológicos que dizem ser bem “mais atraentes e explicativos”.
(…)
Fico com a sensação de déjà-vu ao passar os olhos e folhear o jornal, sem me ater a nada. Mudou pouquíssimo desde o meu tempo de repórter ou editor.
Aliás, tínhamos outro jargão à época sempre que algum gênio da raça vinha com a historinha de reformar o planejamento gráfico.
“Reforma de jornal se resume em por fios ou tirar os fios das matérias”.
A edição que tenho decididamente suprimiu os fios.
(…)
Poderia seguir em frente com outras perorações sobre os questionamentos acima e sempre presentes no tal embate acadêmico.
Mas, serei sincerão, tá!
Não os vejo com bons olhos.
Temo pela resiliência dos jornais, dos jornalistas e do próprio jornalismo.
As redações podem mudar – e estão enxutas, enxutas.
O jornal pode acabar – e estão, como este aqui que tenho em mãos, fininho, fininho.
O jornalismo, não! – amigos e leitores, temam você também por isso.
O que você acha?