Escrevo para Denise, Mônica, Evandro, JP, Bruninho, Guima, Ricardo, Alê, Isabela, Baárbara – todos ex-alunos que andam mundo afora na sacrossanta lida das redações – e a quem mais interessar…
O tema:
Como fica o jornalismo nesses tempos ameaçadores?
Caros,
Antes de tentar lhes responder a pergunta que me fazem, adianto logo que, sendo bem sincero, não sinto falta alguma da Universidade, mas, porém, contudo, todavia…
Sinto uma falta danada do convívio que tínhamos tanto na sala de aula como fora dela.
As conversas vadias pelos corredores e jardins do campus, reconheço, por vezes eram bem alentadoras e profícuas.
Isto posto, tento alinhavar algumas observações sobre o atual dilema da profissão que abraçamos e que hoje vive um grave momento de transição. Pensei em escrever “que hoje vive uma crise”, mas achei a palavra forte demais – poderia desanimá-los – e não condizente com a realidade que ora enfrentamos.
Não há novidade no que vou teclar a seguir.
Enumero alguns pontos que acho importantes [inclusive para clarear minhas próprias ideias].
Acomodem-se que a conversa vai ser longa.
1 – “Jornalismo é caráter”
Alguém aí pretende por em xeque a definição do grande Cláudio Abramo, repetida por nomes como Mino Carta e Audálio Dantas?
É intrínseco à profissão o compromisso do profissional com o público leitor e, sobretudo, com o bem comum.
Como jornalistas, portanto, não fujam deste pilar. Valham-se da crítica, da contextualização dos fatos e da independência.
Acreditem na força do trabalho de vocês.
Ser uno, mas apostar no coletivo.
Este é o primeiro grande desafio.
Os chefetes e os donos dos jornais não gostam nada.
Mas, o que que há?
A verdade factual, acima, de tudo!
2 – “Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”
Gosto da contundência de Millôr Fernandes.
Ela é atualíssima.
Ao remoer minhas pálidas convicções sobre os desafios do bom jornalismo, assalta-me a percepção de que há um novo tipo de Imprensa em prática. Algo que obrigue o profissional a ser subserviente e agradável a quem é agradável aos interesses dos Senhores da Mídia. Estes, por sua vez, são subservientes e agradáveis a interesses outros que esta ou aquela fonte possa vir a representar.
Se for assim que gira a roda viva dos nossos dias, infelizmente, meus caros, ela gira para trás…
Creio que os amigos entendem o que digo, não?
O que você acha?