Neste mês, o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, nas ruas centrais do Rio de Janeiro completa nove meses, sem qualquer resposta digna. Uma tragédia mais do que anunciada e ainda impune que, segundo reportagem de Júlia Barbon, na Folha de S.Paulo de ontem, corre o risco de entrar para o rol dos casos sem solução que sequer chegam à Justiça.
Escreve a repórter:
“Os nove meses de investigação ainda sem conclusão jogam luz sobre um problema caro ao Brasil, que é a demorada e baixa elucidação de mortes violentas. Diferentes estudos calculam que só dois a cada dez desses crimes geram denúncias, embora não haja dados oficiais e a variação seja grande entre os estados.”
Em nosso país, 60 mil pessoas morrem assassinadas anualmente.
Um triste recorde!
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Voltemos ao caso Marielle.
Era vereadora, ativista política, com amplo envolvimento com projetos sociais nas comunidades mais carentes das quebradas cariocas. Ou seja, denunciava e incomodava os poderosos, os mandachuvas de plantão.
Era uma liderança de luta e conscientização das minorias, dos humildes e desvalidos.
Sua cruel execução teve ampla repercussão internacional.
Não é exagero dizer que o mundo civilizado espera a apuração deste crime hediondo.
Mas, ao que parece, não há interesse em saber quem são os verdadeiros culpados.
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Além de engrossar a lista dos casos de assassinatos não elucidados, especificamente a morte de Marielle também se inclui em outra triste estatística que registramos no Brasil.
A da violência contra as mulheres.
Que, aliás, não é nenhuma novidade entre nós.
Os números são contundentes.
Só em 2017 registraram-se 4473 homicídios contra mulheres no país. O tal feminicídio. Um aumento de 6,5 por cento em relação aos índices de 2016.
Resumo deste triste enredo:
Uma mulher é assassinada a cada duas horas.
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A propósito desta temática (violência contra as mulheres) está em cartaz em São Paulo, a montagem Absolvição, com texto e direção de Tristan Aronovich.
O entrecho da peça tem como fio condutor a história de Daniele Toledo que, em 2006, foi indevidamente acusada de assassinar a própria filha de um ano e três meses. Foi presa, espancada a ponto de ainda hoje, aos 31 anos, conviver com as sequelas daqueles dias terríveis (perdeu a visão e a audição do lado direito).
Só depois de 37 dias de tortura (não pôde sequer ir ao enterro da menina), um laudo apontou que a causa mortis se deu a partir de uma reação aos medicamentos que a criança ingeriu na mamadeira, sob prescrição médica.
A partir desta constatação, Daniele foi considerada inocente – e libertada. Mas, os danos foram – e ainda são – irreparáveis.
A mídia já a havia transformado em o ‘Monstro da Mamadeira’.
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Ver Absolvição vale não só pelo debate, atual e oportuno, que propõe. Mas, também e principalmente, pela total entrega das atrizes-protagonistas em cena. Paola Rodrigues, Luciana Stipp, Renata Bozzy e Jana têm atuação comovente.
Confira!
Em cartaz no Latin American Film Institute – rua Coronel José Eusébio 37/53 – Higienópolis – Tel: 3969-0347. Só neste sábado, às 21 horas.
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Termino a crônica de hoje com um ‘achado’ que me foi enviado por um dos meus amáveis cinco ou seis leitores: o clip de Milton Nascimento em reverência a todas as mulheres. Lindamente lindo e está bem na ‘vibe’, como diz a meninada, do que hoje conversamos.
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