Foto: Luciano Figueiredo/CBF
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O apresentador Benjamin Back causou nas redes sociais.
Tuitou que acha “ridículo” o brasileiro que hoje torcer pela Argentina em detrimento da nossa seleção nesta arrastada Copa América.
Disse mais: não vê o menor cabimento na virada de casaca por tudo o que envolve a tradição das duas equipes na história do futebol mundial.
Soube que no Blog do Uol defendeu a mesma postura.
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Também no programa diário que comanda, o Fox Sport Rádio, polemizou sobre o tema com os colegas de bancada, os jornalistas Flávio Gomes e Fábio Sormani.
Lá pelas tantas propôs que os espectadores lhe enviassem sugestões de desafios que cumprirá em caso de derrota brasileira.
Não tenho ideia de qual será a aposta, mas achei interessante o vespeiro em que o Benja-a-a-a-a foi mexer e me pus a pensar no assunto.
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Torcer contra o Brasil?
Não era assim no meu tempo de garoto.
Tínhamos “orgulho da seleção canarinho”, como se dizia à época.
Sorríamos e chorávamos ao sabor do seu desempenho nas copas e, sobretudo, nos confrontos continentais.
Argentina, Uruguai e Paraguai eram nossos mais diretos adversários. Jogos renhidos, disputados; vez ou outra, recheado por inevitável quebra-pau.
Os demais países da América Latina, que me perdoem, não davam pro cheiro. Eram goleados implacavelmente, fosse onde fosse o jogo.
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Um fato chama a minha atenção no historiar dessas pendengas.
Éramos provincianos, regionalistas e amávamos futebol.
Explico:
Havia um conceito de clubes co-irmãos que cultivávamos às últimas consequência.
Tínhamos o nosso clube pessoal, óbvio.
Mas, mesmo com uma simpatia por esta ou aquela equipe do Rio de Janeiro, sempre torcíamos pelo clube paulista se houvesse um confronto interestadual.
Hoje não é mais assim.
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Havia um campeonato de seleções estaduais no início da temporada – e naturalmente que a seleção paulista, de inesquecíveis camisas de listas finas pretas e brancas com gola vermelha, era a nossa preferida contra as demais.
Era uma competição divertidíssima que incentivava a rixa – também histórica – entre Rio e São Paulo.
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Outra lembrança: se houvesse um jogo entre uma equipe brasileira e outra estrangeira, fechávamos inapelavelmente com o nosso representante.
Exemplo:
Santos e Milan, em 63, todos – não só os santistas – torcemos por Pelé & Cia e nos esbaldamos na comemoração do bicampeonato mundial.
Os jogos finais foram no Maracanã, lotado.
Brazilzil!!
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Enfim…
Era assim que era.
Lembro que na Copa de 70, a seleção brasileira foi usada como instrumento de propaganda do governo ditatorial.
Houve quem se propusesse a torcer contra.
Essa resistência durou até a primeira partida, contra a Tchecoslováquia (4 a 1 pro Brasil).
Há um belo filme que retrata essa época:
O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias
Direção de Cao Hamburguer
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Sinceramente, não sei onde a coisa se perdeu.
Tenho uma suspeita.
Uma, não; várias;
– A coisa toda da globalização. Com jogos internacionais transmitidos pela TV e bem mais valorizados e atrativos que os nossos;
– O descrédito da CBF como instituição idônea;
– O empobrecimento do futebol que se joga no país em contraposição com a elitização das torcidas nos estádios;
– O êxodo dos nossos craques, ainda jovens e em levas, para o exterior;
– As múltiplas possibilidades de diversão que hoje a garotada possui;
– Nossa auto-estima com Nação que anda lá embaixo;
Etc etc etc.
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Além de tudo isso, creio, há um divisor de águas.
Quando o São Paulo conquista o bicampeonato com Telê Santana em 92/93 há uma supervalorização da proeza. As rivalidades locais e nacionais ficam em plano secundário. Importa ser reconhecido pra além das fronteiras – coisa que não acontece, mas cultivamos a impressão que sim.
Daí, os torneios estaduais perdem força, o nacional se equilibra como pode e os times nativos passam a sonhar com a Libertadores, o passaporte para o tal Mundial e a extraordinária importância que, por aqui, se dá a este título.
Às favas, o conceito da celebração entre os iguais.
Queremos ser mais e melhor que o nosso vizinho.
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Enfim (2)…
O leitor já deve se perguntar: o que a seleção tem a ver com tudo isso?
Arrisco dizer que é consequência natural dessas querelas.
Se não houver um boleiro do meu time (e quase sempre não há), torço contra.
Se não gosto do técnico, torço contra.
Se o meu vizinho é a favor, torço contra…
E assim, diria Lulu Santos, caminha a humanidade com passos de formiga e sem vontade.
O assunto parece inesgotável. Volto a ele futuramente…
O que você acha?