Sempre gostei de ouvir os comentários esportivos de Juarez Soares.
Achava que tinham o tino certo entre o humor e o respeito à verdade factual.
Não eram debochados.
Eram irônicos.
Não causavam constrangimentos às partes.
Descreviam o fato.
Não havia ilações.
Eram, sim, por vezes, contundentes.
Traduziam numa linguagem, digamos, boleira o que a partida e os craques apresentavam em campo.
“Cada enxadada, uma minhoca.”
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Entendia – e entendo – que o tal e apaixonante esporte- rei por mais apaixonante que seja nunca deve ser levado tão a sério.
É um erro fazer dele razão de vida e, tristemente, de morte como hoje tantas vemos por aí. Mercê de grupos radicais e insanos. Mercê também da doença do divisionismo e violência que hoje vive a sociedade.
Cabe ao jornalista (esportivo ou não) ser a voz que pondera, crítica, faça a mediação; mas nunca que incentive, mesmo que involuntariamente, tais atos e barbaridades.
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Lembro dois momentos marcantes na carreira de Juarez Soares, o China, que me fizeram pensar e repensar o meu modo de entender e fazer jornalismo: a parceria com Osmar Santos, no programa Balancê, da Rádio Globo, e o entrosamento que a dupla Luciano do Valle e Juarez Soares tinha no comando das transmissões esportivas da TV Bandeirantes naqueles áureos e inesquecíveis domingos de mais de 12 horas de programação.
Ainda acompanhei Juarez em outros momentos da carreira: na volta à Rádio Globo, naTransamérica , na RedeTV! e por onde eu soubesse que o China andasse.
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Nunca identifiquei nele a pose de dono da verdade absoluta tão comum em muitos dos ocupantes das tais mesas-redondas atuais. Parecia que Juarez era um dos nossos a falar e brincar com as coisas do Planeta Bola.
Esta sensatez – movida por um talento natural – é o legado que, sem mesmo conhecê-lo pessoalmente, o China me deixou.
Falta-me o talento, mas procuro preservar o equilíbrio e as minhas convicções.
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Juarez Soares morreu ontem, aos 78 anos, em São Paulo. E repito aqui, com convicção, o que ontem li na mensagem do cronista esportivo Mauro Betting:
“O nosso microfone fica ainda mais sem força e energia sem o Juarez”.
O que você acha?