Foto: Wilson Luque
…
Ouso trazer-lhe uma questão:
Se um homem atravessasse o Paraíso em sonho, e lá lhe dessem uma flor como prova inconteste de que havia estado ali.
Ao despertar, ele encontra a mesma e extraordinária flor em sua mão…
Então, o quê?
*Do Livro dos Sonhos, de Jorge Luis Borges.
…
Tenho conversado diariamente, pelo whatsapp, com o amigo e sempre vereador Almir Guimarães.
Lembramos os tempos idos e vividos, reverenciamos o hoje e celebramos, ainda que à distância, uma amizade que o tempo não apagou.
A vida tem nos sido generosa, é verdade.
Se não andamos a sonhar com o paraíso, que não é bem do nosso feitio, ao menos soubemos, ao longo da jornada, semear belos canteiros floridos que hoje nos enche de orgulho relembrar.
…
Outro amigo, o Wilson, tem certeza que o paraíso – ou algo bem próximo – situa-se nos confins do Uruguai. Na bela e pacata Colônia do Sacramento.
Conheço a cidade. Assino e dou fé a avaliação.
Quando lá esteve, não consta que o Wilson tenha acordado com uma inebriante flor nas mãos.
Em compensação fez essa foto lindíssima – e nos encaminhou para ilustrar o post de hoje.
…
Há 50 anos, Gilberto Gil e Caetano Veloso foram arbitrariamente presos pelos ditadores de plantão por suposta “tentativa de quebra do estado de direito e da ordem pública, com ações objetivas e subjetivas”.
Na prisão, isolado em sua cela, Gil se mostrava bem produtivo. Estudava inglês, lia muito e aprimorava o dedilhar do violão.
Tentava não perder a noção do tempo, fiando-se nos turnos das trocas da guarda e dos carcereiros.
Eles tinham por hábito cumprimentarem-se, uns aos outros, com a expressão “Aquele abraço, aquele abraço”.
Gil gostava de ouvi-los e sequer sabia que a saudação era, na verdade, um bordão do humorista Lilico (1937/1998) que fazia enorme sucesso à época.
Quando saiu da prisão, antes de partir para o exílio em Londres, o baiano trouxe daquele pesadelo, injustamente vivido, um samba memorável.
Ouçam…
…
Então, eu que também sonho acordei hoje e me imaginei um cronista…
O que você acha?