“… esperar pela chuva do fim da tarde que chega intensa e rápida”. (Arquivo Pessoal)
…
Vamos começar a temporada 2020.
Primeiro post.
Qual o tema?
Todos e nenhum, especificamente.
Pois, esses dias de ócio e estio aos pés da Serra da Bocaina, na aprazível São José do Barreiro, se tornaram para mim quase um retiro.
Um voluntário retiro que pode ser espiritual, inclusive, isto se desligarmos de vez o celular e a TV e nos entregarmos ao dolce far niente que o lugar inspira aos visitantes.
II.
Não sei se posso recomendá-lo.
Porém, na virada dos setentinha (que completo no longínquo mês de dezembro), está de bom e agradável tamanho para este destrambelhado escrevinhador.
Diria que a sensação é muito parecida com aquela se vive (e sobrevive) quando se está apaixonado.
III.
Como assim?
Explico.
Não existe o mundo real para quem está no auge da paixão. Emprego, amigos, ideologia, time de futebol, noticiário… Nada conta. O que há é o ser amado e tudo o que o rodeia e preza.
É muito próximo a isso minha estadia por lá. Nada me anima se não o pacato dia a dia do lugar em sua mais harmoniosa existência.
IV.
Um breve resumo do que seja:
Acordar com o sol a pino que escancara e define a sinuosidade das montanhas, descer em passos lentos para a praça onde está a padaria/empório em busca do pão nosso de cada dia e ouvir pelo caminho o gentil e sincero ‘bom dia’ de quem cruza os nossos passos, retribuir esses cumprimentos e nos sentir um pouco mais humano, degustar o café de cheiro forte e gosto bom, flanar o dia todo entre miudezas de sorrisos e conversas fiadas, esperar pela chuva do fim da tarde que chega intensa e rápida, surpreender-se com as badaladas do sino da matriz ao anunciar que mais um dia se foi e a noite vem sem sustos e rodeios.
Se o caríssimo visitante, estiver numa maré de sorte ainda terá de lambuja um showzinho de música na praça. Pode ser de marchinhas carnavalescas, como assisti no sábado à noite.
V.
É assim alheio a tudo e a (quase) todos que zanzei por ali todo esse tempo.
Assim como os apaixonados, dei um chega pra lá no tal mundo real. Assim como tenho certeza que, do lado de cá, esse mundão a cada dia mais despirocado sequer notou a minha ausência – e ainda bem.
VI.
Duro mesmo é voltar à dura realidade da metrópole – e enfrentar a vilania do noticiário desses dias insanos.
Mas, convenhamos, há uma boa nova:
O salário mínimo aumentou. Seis reais. Passou de 1039 para 1045.
“Imprecionante”, não? (sic)
Quanta generosidade!
VII.
Por isso, ouso repetir o escritor João Ubaldo:
Viva o povo brasileiro!
Mais do que a estatueta do Oscar, merece ser feliz o ano todo.
Que venha 2020!
Saberemos enfrentá-lo…
O que você acha?