Foto: Jô Rabelo
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Raramente temos a percepção exata da imagem que os outros fazem de nós.
Como eles nos olham.
Como nos veem.
Vez outra, diante do implacável espelho, tomamos aquele, digamos, choque de realidade. Mas, no instante seguinte, tratamos de disfarçar – e acalmar as inevitáveis inquietações que a idade nos traz.
Força, garoto!
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Lembro um saudoso amigo, o Reginaldo, que não resistiu ao impulso de idos tempos e gastou uma quantia bem acima do razoável para comprar um Mini Cooper.
(Entendamos este como um modelo de automóvel mais ao estilo de jovens descolados e bem sucedidos.)
“Mais vale um gosto” – ele me disse, e eu aprovei.
– Boa, garoto!
Quem dera eu tivesse a bala e a coragem!
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Semanas depois, vejo o Reginaldo chegar à Universidade dirigindo um brioso sedam, chiquérrimo também; desses que a galerinha chama de “carro de tiozão”.
Ops.
Estranhei.
Fui lá e perguntei ao Regi:
– Cadê o Mini Copper?
– Vendi – me respondeu sem querer muita conversa sobre o tema.
Insisti:
– Por quê? Era um carro tão bonito.
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Ele, então, baixou a guarda e contou a história.
Disse que passou numa das avenidas de São Paulo, repleta de prédios espelhados. Parou num dos semáforos, e involuntariamente viu o reflexo do carro, com um senhorzinho de cabelos grisalhos dentro dele. Tomou um susto:
– Sabe que é amigo, não estava ornando: a persona e o carro. Achei melhor procurar um modelo mais de acordo comigo.
E assim comprou o tal sedam que não me recordo exatamente a marca.
Saudades do Reginaldo e suas tiradas.
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Comigo, bem mais pobrinho, a coisa toda se dá é no Metrô paulistano.
Adoro andar de Metrô, diga-se.
Fora dos horários de pico, naturalmente.
Acho aquele um mundo à parte. Gente de todos os tipos, estilos e origens a conviver harmoniosa e, via de regra, educadamente.
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É comum que eu entre num vagão e, ato contínuo, as pessoas me acenem indicando um lugar vago ou elas próprias levantam-se para que viaje sentado.
Fico um tanto sem graça, e algo assim-assim.
Por mais que tente me iludir, é um Terceira Idade que veem entrar.
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No entanto, se chego cansado, piso no trem e vejo todos os assentos ocupados – inclusive os preferenciais – por jovens absortos no celular que não se tocam que chegou um velhinho…
Ah, meus caros, fico pê da vida.
A depender dos humores do dia, faço ver a eles porque associam o passar do tempo à ranzinzice.
Tô no meu direito, que que há!
O que você acha?