Foto: Camila Bevilacqua/Arquivo
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Alguns amigos e leitores ficaram preocupados quando ontem aqui escrevi que iria dar um bordejo pelas ruas e praças mesmo com a chuva.
Um deles me perguntou:
– Falou no sentido figurado, foi?
Outra, mais irônico, não perdoou:
– Olha o prazo de validade antes de sair…
Relevem, meus caros.
Primeiro porque na região onde moro, em São Bernardo do Campo, a pancada d’água foi tímida – e deu uma trégua assim que firmei o pé na Avenida Kennedy.
Também não fui longe, não.
Parei na Agência do Correio, coloquei ali uma encomenda pro amigo Escova que mora “nos confins da França” – o novo e pancadão livro do Chico Buarque, Essa Gente – e outra pro Nestor, que mora na Bélgica – meu recente livro Pela Janela do Mundo…-, passei na padaria pro habitual maquiato e logo voltei todo pimpão. Sem qualquer enfrentamento de chuva ou garoa.
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Mas, vou lhes contar: tenho alguma experiência nessa área de enchentes e inundações. Não chego a ser um PHD no assunto, mas já topei, ao longo da vida, com poucas e boas.
Quer dizer, não sei se a expressão é exatamente esta. Mas, vá lá.
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Uma das primeiras lembranças que tenho na vida é da Dona Yolanda, minha mãe, algo desesperada com a água entrando pela nossa casa num das tantas inundações que a família passou quando morávamos na rua Muniz de Souza no Cambuci.
Minha irmã, Doroti, foi abrigar-se na casa da vizinha sem avisar a Dona Yolanda.
Já imaginaram o desespero da minha mãe, imaginando o pior, até que o equívoco fosse esclarecido.
Meu porto seguro foi o tampo de madeira de uma mesa de costureira – um tantinho mais alta que as outras – que existia num dos cômodos da casa.
Devia ter quatro ou cinco anos, se tanto.
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Tempos depois fomos morar no Ipiranga – na parte alta do Ipiranga, e não mais passamos por esses aperreios.
Só que, anos depois, o Degas aqui virou repórter.
Já entenderam, né?
A sina de cobrir as cheias em São Paulo se repetiram – e não foram poucas.
Fiquei meio escolado no assunto.
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Lembro um ano que cobríamos os desfiles de Carnaval que ainda eram na Avenida Tiradentes e lá pelas tantas da terça-feira gorda desabou um dilúvio dos céus.
De onde estávamos – zona norte de São Paulo – só ouvíamos os trovões misturado ao baticum dos tamborins, repiniques e surdões.
Choveu ali, mas nada que prejudicasse a apresentação das escolas de samba.
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Dali, fomos direto para a Redação. Onde me aguardava a tarefa de um dia de andanças pela Vila Carioca e Vila Independência tristemente detonadas pelas chuvas da madrugada.
Aquela foi uma quarta-feira de lama – e muito trabalho.
Na sexta, o jornal circulou com as duas coberturas. A do Carnaval e a das enchentes.
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Na primeira página, rasgamos duas enormes fotos.
Uma estampava a alegria do Carnaval paulistano.
A outra mostrava a tragédia e o descaso das autoridades que, lamentavelmente, entra governo sai governo, ainda hoje persiste…
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Amândio Martins
11, fevereiro, 2020A cidade de São Paulo foi muito mal planejada.
Não tivemos a sorte e o prazer de ter tido um urbanista com formação europeia na França ou Espanha.
Ocupamos as várzeas dos rios e córregos ou os retificamos, em alguns casos…isso gerou, gera e continuará gerando o caos na cidade.
Ao longo desses corpos d’água poderíamos ter parques lineares ao invés de grandes avenidas. Deveríamos ter priorizado o transporte fluvial e de trilhos…mas não, favorecemos a especulação imobiliária de ocupação e o transporte sobre pneus (indústria automobilística)..
Deu no que está dando…♂
E continuará dando, nobre e querido Amigo Rodolfo…e não adianta chorar ‘lágrimas de chuvas’.
Aliás, é melhor não!