Foto: Reprodução
…
Vez ou outra ainda sou procurado – basicamente por jovens jornalistas ou estudantes de… – para algum tipo de entrevista sobre isso, aquilo e aquil’outro.
Não entendo nada de nada, mas vá lá – eu os atendo cordialmente.
Um dia fui assim também, creiam.
…
Para minha sorte, as pautas de política e economia são raras, quase inexistentes.
Se não, teria que encaminhá-los ao Posto Ipiranga como fez – e faz – o divertido anúncio e aquela outra conhecida e execrável figura da atualidade.
Argh!!!
…
Difícil palpitar sobre qualquer tema hoje em dia sem causar polêmica e turbulências.
Enfim…
Vida que segue.
Cada um, cada um.
…
Voltemos aos jovens e suas indagações.
A moda agora é pedir uma lista disso ou daquilo.
Os portais e sites parecem gostar dessa simplificação.
– Garante muitos cliques, me disse um amigo que trabalha no UOL.
E as universidades parecem seguir a mesma toada.
Fazer o quê?
Que o Senhor nos guarde, incólumes – mas, nem tanto…
…
Como disse, eu os atendo na medida do possível, com respostas que, aos olhos, ouvidos e mentes da meninada, parecem vir dos tempos das cavernas.
Não faço de propósito, mas, confesso, me divirto um tantinho.
Querem um exemplo?
Me perguntaram, outro dia:
– Monte o seu Palmeiras ideal, aquele time dos sonhos?
De bate-pronto respondi: Leão, Djalma Santos, Luis Pereira, Djalma Dias e Geraldo Scoto; Dudu e Ademir da Guia, Julinho, Jair Rosa Pinto, Mazzola e Chinesinho.
…
Segundos depois, recebo a mensagem do perguntador embasbacado:
“Mas, o Dudu não é volante, não, professor!”
Deixei quieto.
Como explicar para o jovem que o Dudu a que me referi não é o de hoje; e, sim, o médio volante que marcou Pelé, Rivelino, Pedro Rocha e outros mais e, por mais de uma década, formou um meio de campo histórico e vencedor com Ademir da Guia.
Minha resposta:
– Vá ao Google, meu rapaz. Clique em Dudu e Ademir da Guia. Clique também em cada um dos nomes da escalação – e depois, se ainda quiser, volte aqui.
…
Não voltou.
O maestro soberano, Tom Jobim, certa vez, disse que a memória do brasileiro não vai além do que aconteceu nos últimos 15 anos.
É fato!
Ontem, uma repórter me perguntou sobre o melhor filme de todos os tempos. Qual seria?
Respondi que, de todos os tempos, é muito tempo – e não tinha como lhe dizer, pois não assisti a todos eles.
Básico, não?
Mas, entre aqueles que pude ver, O Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard) é o que mais me impactou pela narrativa, pelo desempenho dos atores (Willian Hoden e Glória Swanson) e a direção incrível de Billy Wilde.
…
Me antecipei ao espanto da moça, e fui logo dizendo:
“É um filme noir, produzido em 1950 (ano em que nasci) e tem como enredo a saga de uma diva do cinema mudo que não se conforma com a decadência e o esquecimento a que foi relegada pelos novos tempos do cinema-falado. A atriz sonha delirantemente com seu retorno às telas, à fama e à glória. É um drama e tanto. Concorreu a onze Oscar, ganhou três – e ainda hoje está como um dos pontos altos das produções hoolywoodianas”.
…
Ufa!
Falei.
E me preparei para ouvir as impressões da minha interlocutora.
Ela foi sucinta:
– Que memória, hein, professor!
…
Minutos depois, outra ligação.
Com voz titubeante, ela me pergunta:
– Professor, o editor do portal para o qual eu escrevo quer saber: se é uma provocação sua à nova secretária da Cultura, a…
Não deixei que terminasse a frase:
– Diga a ele pra assistir ao filme e tirar as próprias conclusões.
E, por segurança, desliguei o celular.
…
…
VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
14, março, 2020Boa!!!