UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: Wilson Luque)
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O tal de Filósofo é um bom coração, interveio em meu favor.
Ou está me tirando?
Não sei se devo, mas fico de sobreaviso
Deixa ver se euzinho aqui entendeu (que às vezes vario e dou defeito).
Na idade em que estou aparecem os tiques, eu sei.
Mas, peraí, chamar um tiozão pra cuidar de outro tiozão…
É preocupante.
Tudo no mundo, pra valer uma conclusão, tem “um por exemplo”.
Ou não?
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Era redator do jornal.
No lusco-fusco de um macio fim de tarde, sobrou para mim a aspereza da transcrição da palestra do professor Rubem Alves. Uma mão de obra legal, decupar fitas de gravações.
Encarei que não sou de rejeitar trabalho.
No final, até gostei – e muito – do que ouvi.
Alves encontrou-se com professores da rede pública de Educação do Estado de São Paulo, acho.
Foi mais uma conversa gostosa bem a seu (dele) feitio, dessas que educam sem a pretensão e o tom de Aula Magna.
Tratou, como de hábito, sobre o homem, esse ser vivente, e sua passagem pelo Planeta Terra.
Saiu lá dos primórdios da Humanidade e veio vindo, saboreando as palavras num tom de saga e destino.
De tudo, um pouco.
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Começou citando Albert Camus, o escritor:
“Só tardiamente ganhamos coragem de assumir o que somos e o que sabemos”.
Tardiamente, ressaltou. Na velhice.
– Como estou velho – disse. – Ganhei coragem pra dizer algumas impertinências.
– Exemplo, continuou. – Não acredito nessa história de “o povo unido jamais será vencido”.
Deu pra ouvir o “óóóóóó” da plateia.
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Não tenho as loas e proas do venerando e saudoso professor.
Mas, também posso me considerar rodado o suficiente para me comprazer com algumas impertinências.
A verdade – escreveu Rubem Braga, o Rei dos Reis da crônica nativa – não é o tempo que passou. A verdade é o instante.
(Vou tascar essa quando reencontrar o dito Filósofo.
Acho que ele não conhece – e vai me respeitar como bom fraseador.
Que bobagem.)
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Não importa.
Pretendo mesmo é ficar aqui. De boa, num canto ensolarado qualquer a olhar as montanhas, o céu…
Essas riquezas que pouco se tem na Metrópole onde insisto em viver e, com a graça divina, sobreviver.
Também não acredito nessa história de “povo unido”.
Quantos povos existem dentro do que se imagina ser um só povo? Sonhos, aspirações, hábitos, culturas, virtudes, mazelas – cada tribo tem as suas.
Olho a movimentação dos mochileiros, dos funcionários, dos bocaneiros (ou bocainenses), eu mesmo… Somos iguais, mas diferentes.
Ou não?
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A vida, por vezes, precisa de uma pausa.
Se o dito compadre Tio Carlos, me procurar, não lhe dou muita conversa. Invento uma desculpa na hora, desbaratino. Prometo prometido não baixar o Carcamano.
É provável que seja mais fácil do que subir e descer esses nacos de terra por aqui, trilhas íngremes, atravessar riachos em pinguelas improvisadas e ouvir as palavras de ordem dos prestativos guias.
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Além do que, logo, logo, tudo isso aqui fica em silêncio.
O pessoal já me esqueceu entretido com a partida para os tais passeios.
Todos estão ruidosamente eufóricos. Parece que vão escalar o Everest ou desvendar os mistérios da Arca Perdida, tamanha a movimentação dos arremedos de Indiana Jones.
Eu, hein!
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À francesa, aproveito para dar um perdido até o casarão do século 19, época dos primórdios do plantio do café no Brasil.
(Alguém me disse isso.)
Se o Tio Carlos, aquele que é bacana, é legal, procurar por mim na Pousada, já era.
Vai ficar no vazio.
Trata-se, pois, de mais uma brevíssima impertinência que hoje pretendo perpetrar.
Nada tanto assim, convenhamos.
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Feliz e Santa Páscoa, amigos!
O que você acha?