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O que o tempo leva… (6)

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UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: Wilson Luque)

O tal de Filósofo é um bom coração, interveio em meu favor.

Ou está me tirando?

Não sei se devo, mas fico de sobreaviso

Deixa ver se euzinho aqui entendeu (que às vezes vario e dou defeito).

Na idade em que estou aparecem os tiques, eu sei.

Mas, peraí, chamar um tiozão pra cuidar de outro tiozão…

É preocupante.

Tudo no mundo, pra valer uma conclusão, tem “um por exemplo”.

Ou não?

Era redator do jornal.

No lusco-fusco de um macio fim de tarde, sobrou para mim a aspereza da transcrição da palestra do professor Rubem Alves. Uma mão de obra legal, decupar fitas de gravações.

Encarei que não sou de rejeitar trabalho.

No final, até gostei – e muito – do que ouvi.

Alves encontrou-se com professores da rede pública de Educação do Estado de São Paulo, acho.

Foi mais uma conversa gostosa bem a seu (dele) feitio, dessas que educam sem a pretensão e o tom de Aula Magna.

Tratou, como de hábito, sobre o homem, esse ser vivente, e sua passagem pelo Planeta Terra.

Saiu lá dos primórdios da Humanidade e veio vindo, saboreando as palavras num tom de saga e destino.

De tudo, um pouco.

Começou citando Albert Camus, o escritor:

“Só tardiamente ganhamos coragem de assumir o que somos e o que sabemos”.

Tardiamente, ressaltou. Na velhice.

– Como estou velho – disse. – Ganhei coragem pra dizer algumas impertinências.

– Exemplo, continuou. – Não acredito nessa história de “o povo unido jamais será vencido”.

Deu pra ouvir o “óóóóóó” da plateia.

Não tenho as loas e proas do venerando e saudoso professor.

Mas, também posso me considerar rodado o suficiente para me comprazer com algumas impertinências.

A verdade – escreveu Rubem Braga, o Rei dos Reis da crônica nativa – não é o tempo que passou. A verdade é o instante.

(Vou tascar essa quando reencontrar o dito Filósofo.

Acho que ele não conhece – e vai me respeitar como bom fraseador.

Que bobagem.)

Não importa.

Pretendo mesmo é ficar aqui. De boa, num canto ensolarado qualquer a olhar as montanhas, o céu…

Essas riquezas que pouco se tem na Metrópole onde insisto em viver e, com a graça divina, sobreviver.

Também não acredito nessa história de “povo unido”.

Quantos povos existem dentro do que se imagina ser um só povo? Sonhos, aspirações, hábitos, culturas, virtudes, mazelas – cada tribo tem as suas.

Olho a movimentação dos mochileiros, dos funcionários, dos bocaneiros (ou bocainenses), eu mesmo… Somos iguais, mas diferentes.

Ou não?

A vida, por vezes, precisa de uma pausa.

Se o dito compadre Tio Carlos, me procurar, não lhe dou muita conversa. Invento uma desculpa na hora, desbaratino. Prometo prometido não baixar o Carcamano.

É provável que seja mais fácil do que subir e descer esses nacos de terra por aqui, trilhas íngremes, atravessar riachos em pinguelas improvisadas e ouvir as palavras de ordem dos prestativos guias.

Além do que, logo, logo, tudo isso aqui fica em silêncio.

O pessoal já me esqueceu entretido com a partida para os tais passeios.

Todos estão ruidosamente eufóricos. Parece que vão escalar o Everest ou desvendar os mistérios da Arca Perdida, tamanha a movimentação dos arremedos de Indiana Jones.

Eu, hein!

À francesa, aproveito para dar um perdido até o casarão do século 19, época dos primórdios do plantio do café no Brasil.

(Alguém me disse isso.)

Se o Tio Carlos, aquele que é bacana, é legal, procurar por mim na Pousada, já era.

Vai ficar no vazio.

Trata-se, pois, de mais uma brevíssima impertinência que hoje pretendo perpetrar.

Nada tanto assim, convenhamos.

Feliz e Santa Páscoa, amigos!

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