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Para que vivi *

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Foto: Arquivo Pessoal

Três paixões, simples mas avassaladoras, me dominaram a vida: o desejo do amor, a busca do saber e a insuportável piedade pelo sofrimento humano. Três paixões, como vendavais, me lançaram aqui e ali, em rumo desordenado, sobre as profundezas de um mar de angústias beirando o desespero.

Busquei o amor, primeiro, por trazer consigo o êxtase – êxtase tão imenso que, muitas vezes, teria de bom grado sacrificado todo o resto de meus dias por algumas horas de felicidade. 

Busquei-o depois para alívio da solidão – a terrível solidão na qual trêmula consciência vê, dos confins do mundo, o frio, imponderável e inerme abismo.

Busquei-o, enfim, porque, na união do amor vislumbrei, em mística miniatura, um esboçar da visão do paraíso imaginada por santos e poetas.

Foi o que busquei e, embora talvez pareça bom demais para o ser humano, foi – finalmente – o que encontrei.

Com idêntica paixão, busquei o saber. Quis entender os corações dos homens. Quis saber porque brilham as estrelas. E tentei captar o significado da potência pitagórica na qual o número sobrepuja o fluxo.

Disso, um pouco, não muito, consegui.

Amor e saber, no que me foi possível, elevaram-me aos céus.

Mas, sempre, tristeza e pena traziam-me de volta à terra. 

Ecos dos gritos de dor reverberam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas pelo opressor, velhos indefesos – cargas odiadas pelos filhos – e todo um mundo de solidão, pobreza e dor, caricatura do que deveria ser a vida humana.

Desejo aliviar o mal mas não consigo, e também eu sofro.

Foi essa minha vida.

Valeu a pena vivê-la e a viveria novamente, se me fosse dada a oportunidade.

 

** Autobiografia de BERTRAND RUSSELL, Prólogo.

Estava no Teatro Tupi, ali na avenida Brigadeiro Luiz Antônio, quando Paulinho da Viola apresentou, pela primeira vez em público, esse dolente samba em uma das eliminatórias da Feira Permanente da Música Popular Brasileira…

Um privilégio, e uma emoção inesquecível.

A um canto do teatro, também na plateia, o produtor da Feira, Fernando Faro, estava embevecido – e dizia (referindo-se a Paulinho):

– Como consegue? Ele é tão jovem… É o herdeiro de Cartola, sem dúvida.

Isso foi em 1969. Paulinho acabara de mostrar, no programa da semana anterior, outro samba inédito:

Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida.

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